O escravo nos anúncios de jornais brasileiros do século XIX

não chegou a escrever, embora acreditando o ter precedido de "fragmentos ao apelo das oportunidades".

É evidente o exagero de Gilberto Amado quanto a ter faltado organização nacional ao Brasil Império por falta absoluta de objetividade para trato das coisas públicas. Injustiças à ação de José Bonifácio: intelectual ao mesmo tempo que homem de ação. Pesquisador científico que do estudo da natureza passou ao dos homens. Ao das coisas sociais. Tampouco faltariam de todo ao Império homens públicos que à capacidade política associassem saberes objetivos: o caso de Teixeira de Freitas, de Clóvis Bevilacqua, de Martins Júnior, de Artur Orlando. Ou homens públicos que estimulassem tais estudos. Não faltaram estímulos a Gonçalves Dias, da parte do Governo Imperial, para pesquisas antropológicas no campo. Nem devem ser esquecidas as pesquisas, nesse setor, de Couto de Magalhães. Nem as geográficas de Joaquim Caetano. Anos depois viriam os estudos de campo de Nina Rodrigues. Os do Museu Nacional, fundado no tempo do Império. Os do Museu Goeldi. Os de Capistrano de Abreu. Os de Teodoro Sampaio. Os do barão do Rio Branco, Joaquim Nabuco, Euclides da Cunha sobre geografia histórica. Os de Sílvio Romero sobre folclore. Os de João Ribeiro sobre linguística.

É certo que da geração, aliás brilhante, de Gilberto Amado, nenhum - exceção, talvez, de Pandiá Calógeras - se destacou de todo pelo gosto por pesquisas de campo em torno do homem brasileiro. Ou a respeito da ordem social do Brasil considerada nas suas bases. Ou investigada nas suas fontes. Apenas se destacaram Roquette-Pinto e Froes da Fonseca, como antropólogos idôneos, aos quais, entretanto, faltou ânimo para obras que fossem além de lúcidos começos. Lúcidos começos, porém fragmentos. Fragmentos iguais aos deixados pelo admirável Gilberto Amado.

O que Gilberto Amado projetou realizar e não realizou - e que pode ter sido igualmente projeto de um, ao contrário de Amado, mais cientista do que beletrista, Roquette-Pinto ou de outro dos brilhantes companheiros de geração do insigne autor de Grão de areia - viria a ser, em grande parte, se não de todo, obra de brasileiros de gerações posteriores. O conhecimento dos antecedentes europeus e não-europeus ou das raízes do Brasil, a descoberta de algumas das mais obscuras dessas raízes, a identificação de valores e de fatores pressentidos porém só impossíveis de ser encontrados por homens de estudos empenhados em maiores esforços que os de intelectuais apenas de gabinete, dos mais talentosos, não há dúvida de que vêm, nos últimos decênios, ganhando

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