O escravo nos anúncios de jornais brasileiros do século XIX

profundidade e abrangência. Lembre-se Sérgio Buarque de Holanda. Recorde-se Raymundo Faoro. Destaque-se um Viana Moog. Também um Artur Reis. Ou um Diégues Júnior. E, dentre os pré-brasilianistas, um Roy Nash ao lado do francês Roger Bastide. Inclusive alguns desses analistas valorizando ou revalorizando elementos na formação da gente e da cultura brasileiras até há pouco tempo tratadas um tanto de resto, isto é, sem se reconhecer neles sua germinal importância.

Para Blaise Cendrars, essa revalorização, por pensadores e analistas brasileiros, de tais elementos na formação pré-nacional e nacional de sua gente e de sua cultura - foi o que ele próprio me disse em Paris e o que está de todo claro em seus trabalhos póstumos - constitui nova e criativa perspectiva em estudos desse gênero, em qualquer parte do mundo, dando-se inclusive, ao escravo afronegro, valor equivalente ao do senhor europeu e reinterpretando-se, à base dessa equivalência de atuação e de valores, o mestiço no plano biológico, e a interpenetração de culturas no antropocultural ou sociológico. Cendrars atribuía o início dessa reorientação nas interpretações do brasileiro do seu próprio ser nacional principalmente ao que se considera a relação senhor-escravo no livro Casa-grande & senzala. Poderia atribuí-lo a outras obras brasileiras da década de 30, ele, Cendrars, pessoalmente, considerando precursora dessa reorientação a obra - os ensaios - do seu ilustre amigo paulista Paulo Prado. Entretanto, terão sido, os ensaios de Paulo Prado como os de Gilberto Amado, os de Roquette-Pinto, os de Pontes de Miranda, os do perspicaz escritor marxista Astrogildo Pereira - um Astrogildo Pereira, um Caio Prado Júnior, um Oliveira Viana, um Florestan Fernandes, um Darcy Ribeiro e um Fernando Henrique Cardoso, estes últimos já de outra geração - fragmentários, embora em algumas de suas páginas mais perceptivas esses autores se mostrassem já próximos de uma abordagem menos eruditamente subeuropeia e mais teluricamente, empaticamente, criativamente brasileira com relação a fundamentos de uma metarraça e de uma cultura próprias do Brasil. Metaeuropeias. Revalorizando-se nesses fundamentos, de modo incisivo, a presença afronegra. Inclusive essa presença do afronegro quando escravo: um escravo a quem, entretanto, não faltou oportunidade de exprimir-se, mesmo assim limitado, conviventemente e criativamente, primeiro como pré-brasileiro, depois como já brasileiro. Em alguns aspectos, como alforriado. As alforrias, no Brasil patriarcal e escravocrático, tendo sido numerosas - como comemorações, em família, várias delas, de nascimentos, batizados, casamentos, sucessos

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