Registre-se, entretanto, como aspecto da deficiência, no Brasil tornado República imitadora dos Estados Unidos, a falta de um transabolicionismo que facilitasse, como a família patriarcal-escravocrática chegara, em não de todo raros casos, a facilitar a instrução, até os estudos superiores, de filhos supradotados de mães ou de pais escravos: o que aconteceu a não poucos Teodoros Sampaios. Surpreendente não ter ocorrido nem a Ruis Barbosas, liberais avançados, nem a Benjamins Constants, positivistas comtianos dos que se diziam empenhados em integrar proletariados em sociedades burguesas, nem a bispos ou a abades de uma Igreja já separada do Estado, continuarem, de modo mais amplo e mais sistemático, aquela obra social realizada até certo ponto pela família patriarcal-escravocrática: a de facilitar a instrução de filhos supradotados de escravos. Obra que teria importado no mais socialmente construtivo transabolicionismo. Obra em que talvez tivesse se empenhado Joaquim Nabuco se o seu empenho de esclarecido reformador social não tivesse sido interrompido de todo pela implantação da República, conservando-se ele infiel ao regime monárquico. Obra que teria impedido a degradação de tão grande parte da população de origem afronegra do Brasil: um Brasil tornado abstratamente, retoricamente, livre pelo Treze de Maio. A esse Treze de Maio faltou uma política inteligentemente social, integrativa, que o completasse: inclusive através de uma ampla e, de algum modo, difícil valorização de supradotados, filhos de ex-escravos. Valorização que dentro de suas possibilidades, de instituições não-estatais, vinha sendo, de algum modo, efetivada com relação a tais filhos de escravos, quer pela referida família patriarcal, quer por conventos, como o dos frades de Igaraçu, que, descobrindo em Antônios Pedros de Figueiredo, de origem afronegra, supradotados, tudo fizeram pela valorização de suas inteligências superiores, tornando possível - no caso específico daquele chamado "Cousin Fusco" - sua brilhante ascensão intelectual. Uma ascensão que o tornou, antes de Tobias Barreto, uma das grandes expressões, no Brasil, de inteligência predominantemente afronegra, no mais alto dos setores de saber: o filosófico desdobrado em crítico social, objetivo, nada demagógico, ainda hoje válido, tais as antecipações do chamado "Cousin Fusco".
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Procura-se, atualmente, no Brasil, através de publicações menos cientificamente marxistas - nisto, diferentes daqueles estudos magistrais de um Fernando Henrique Cardoso ou de um Darcy