Ribeiro ou de um Nelson Werneck Sodré - aplicar generalizações marxistas a particulares brasileiros. Ao contrário dos escritos desses autores, esses outros marxizantes se mostram ideologicamente sectários. Pronunciamentos assim sectários com relação a situações particularmente brasileiras vêm sendo, nos Estados Unidos, os de brasilianistas discípulos do professor Marvin Harris. Procuram tais brasilianistas criar uma imagem, em grande parte falsa, do que foi a situação mais característica do escravo no Brasil patriarcal, pondo em relevo aspectos negativos dessa situação e omitindo os positivos. Nos Estados Unidos, ou em outro país de língua inglesa, esse desonesto harrismo foi reduzido à sua insignificância, como expressão sociológica ou revisão histórica, pelo mais lúcido e autorizado dos atuais marxistas daquele país: Eugene Genovese, em The World the Slave Holders Made e noutros livros idôneos. É autor, o professor Genovese, a quem não falta o conhecimento de obras de autores brasileiros nas quais se vem apresentando, à base de evidências irrecusáveis, uma imagem da situação do negro escravo no Brasil patriarcal sob vários aspectos diferente, pelo que nela foi, se não mais humano, menos inumano que em situações equivalentes do escravo na América Inglesa, na Francesa e mesmo na Espanhola. Ou a do trabalhador na Europa recém-industrializada dos começos e dos meados do século X.
Exemplos de sub-harrismo no Brasil atual não faltam. Um deles, O negro e a violência do branco, do sergipano Ariosvaldo Figueiredo, que, entretanto, cita de A Voz do Povo, de Aracaju, de 24 de janeiro de 1885: "O escravo em nosso país tem outras garantias que não tem a maior parte dos trabalhadores europeus".
O honesto testemunho de jornal de província do Brasil patriarcal-escravocrático - jornal, aliás, progressista - a comprometer a futura eloquência de um retórico desvairado na sua ideologia sectária e arbitrariamente aplicada à história do seu Estado e do seu país.
Santo Antônio de Apipucos, dezembro de 1978.
G. F.