História de um engenho do Recôncavo. Motoim – Novo Caboto – Freguesia; 1552-1944

Quem passava no mar, diante de Freguesia, reparava naquela grande casa fechada e silenciosa, indiferente ao ruído das moagens.

No isolamento sem pompa de Pindobas decadente, o velho Rocha Pita e Argolo era uma aparição do que fora. Dir-se-ia cobrir, com débeis restos de vida, numa aparência de fortuna periclitante, uma pobreza mal oculta e disfarçada.

Não foi de todo assim. A partilha de seus bens em 1877 pôde ainda dividir três engenhos e 328 escravos.(3) Nota do Autor

E os que o rodeavam, quando morreu, fizeram questão de dar alarde de riqueza no enterro e funeral na capela de Pindobas. Nessa última cena não haveria de perder a grandiosidade de sempre. É interessante lerem-se as contas, juntas ao inventário, das armações de eça, dos 18 sacerdotes e dos 20 professores de orquestra, vindos da Cidade, da Vila de São Francisco, das freguesias próximas para tais exéquias.(4) Nota do Autor

Quando foi do inventário dos bens deixados pelo conde de Passé em 1877 o Engenho Freguesia, avaliado em 143:438$000, constituiu, com joias e prataria, o quinhão de Maria Luísa e Antônia Teresa, netas daquele titular, filhas dos barões de Cotegipe, e que já eram condôminas do engenho Jacaracanga, herdado da baronesa de Cotegipe. Uma amigável composição desfez o condomínio, ficando Antônia Teresa senhora de Jacaracanga e Maria Luísa de Freguesia.

Se já nos últimos anos de vida do conde, a casa meio abandonada, estava o engenho entregue a administradores, quando veio a ser gerido pelo barão de Cotegipe, tutor de seus filhos, pouco melhorou quanto à assistência de donos.

Cotegipe começara forte como lavrador adiantado, e ali, a dois passos, em Jacaracanga, que comprara, havia fundado um engenho modernizado, um dos primeiros da província.(5) Nota do Autor Mas quando lhe morreu o sogro a política já de novo atraíra o estadista, e, se lhe dava fama e a consolidava para a posteridade, obrigava-o a cuidar com menos zelo de sua fortuna e da dos filhos, quase totalmente consistente em engenhos de açúcar.

Se um dono ou administrador sempre presente, ora a uma ora a outra de várias propriedades, dificilmente as regeria assim tão numerosas, que diria entregues a quem, absorvido por outras preocupações, se desdobrasse entre debates do parlamento e polêmicas de imprensa, por pastas de governo e eleições, na direção de um partido e ainda com deleites e encantos da Corte?

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