Como era possível trabalhar com os negros tão assanhados pela demagogia dos abolicionistas, e ali tão perto e em diário contato com a capital, onde fervia a propaganda desprestigiadora da instituição servil?!...
Embora a escravatura, que em 1877 ali somava 131 servos (em 1811-82, em 1832-34, em 1856-63), já não fosse tão numerosa, o desfalque de capital e a desorganização de serviço abalaram de tal modo aquele centro de trabalho e produção, que parecia ter chegado a total desbarato.
Todavia fumegavam ainda os bueiros do velho engenho. Já era porém uma moagem arrastada, de lucros pequenos, quando havia numa zona em que um a um os banguês vizinhos iam ficando de fogo morto. O açúcar confinava-se nos massapês de Santo Amaro, abandonadas as terras mais cansadas de beira-mar. Iguape, Matoim, Paramirim, Vila de São Francisco entravam numa aniquilante crise.(8) Nota do Autor
Quantos senhores desanimavam e entregavam seus campos em insignificantes arrendamentos, para virem vegetar na cidade? Quantos ainda, que nem arrendavam nem vendiam e, para "conservar" seus engenhos, os deixavam arruinar-se?
Ainda assim, o banguê moía e o açúcar enchia lanchas, que velejavam para os trapiches da Cidade Baixa.
Freguesia, mal ou bem, cansadamente, rangia cilindros, arfava a velha máquina, empenachava-se em fumos de engenho centenário que queria resistir.
E atravessou a grande crise sem incidentes que deixassem memória, e sob o regime de trabalhadores assalariados, continuou a rodar máquinas, bufar vapores, cozinhar melaços.
Davam os aparelhos sinais de exaustão: a caldeira, os clarificadores, as tachas, o burrinho, tudo pedia substituição. Algumas dessas peças tinham vindo de Jacaracanga, quando se desmanchou o engenho. Era porém evidente que mais cedo ou mais tarde a fábrica apagaria para sempre seus fogos, como ia acontecendo a tantas em torno. Pois o próprio comprador de Jacaracanga não desprezara as ferragens, interessado apenas pelas terras para fazenda de plantar e criar?...
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Já notamos que os senhores de engenho nunca foram amigos de escriturações, e muito menos de arquivar folhas de pagamentos, correspondência, registros de despesas e receitas, cadernos de