História de um engenho do Recôncavo. Motoim – Novo Caboto – Freguesia; 1552-1944

preços de ferros velhos que, em 1914-1918, limpou o Recôncavo desses vestígios de suas primitivas fábricas.

Veio outro arrendamento, como uma etapa de preparação para nova fase que se esboça. O açúcar reage. Há confiança em plantar-se, sem receio de preços arrasantes no momento da colheita. As relações entre o lavrador e o industrial estão mais policiadas. Se o "banguê" não ressurge, reverdecem os canaviais a segredarem em seus cicios, entre lembranças de 300 anos, uns risonhos vaticínios. E se o vasto telheiro já não fumega muitas das antigas vaidades, ainda pompeia orgulho o "sobrado", que resiste ao tempo e não quer ser ruína.

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A história de um engenho de açúcar, bem estamos a ver, como a dos indivíduos, das famílias, das dinastias, dos estados, não é uma linha evolutiva igual ou crescente, mas oscilante vaivém em sinuosidades de bons e maus tempos.

Os 370 anos do Freguesia, em fastígios e decadências sucessivos, ministram lições de economia e pregam advertências às vãs soberbas que a riqueza, o poderio e a fidalguia inspiram.

Que nos diz em resumo esse passado, e que pressagia o porvir?

Um sesmeiro feliz; um fundador grande repúblico, potentado, opulento, que um dia vê a família amesquinhada nas delações, perseguida de libelos e julgamentos iníquos, gente de seus afetos atirada às gemônias da Inquisição e a arder em autos de fé; uma linhagem que se prestigia em êxitos e esgalha em ramadas genealógicas - importante e considerada, para decair ao ponto de perder o domínio territorial que a categorizava; uma estirpe que nasce à romana de um rapto e se eleva em sertanismos e lavouras, latifúndios e engenhos, largas terras e riquezas, atravessando quatro gerações, e dilui seus apelidos nas alianças dos rebentos femininos; um Rocha Pita a crescer em cabedais, fazendas, rebanhos, política e mando, para obscurecer-se em crepúsculo caseiro, rodeado de bastardos gastadores; outro Rocha Pita que recompõe, restaura, retoma o brilho do nome e o império da fortuna, reergue os castelos, redoura os brasões, revive as tradições, chega ao pináculo do poder econômico, e se recolhe triste no isolamento melancólico da decadência...

O engenho, eito contínuo de escravos, a desfazer-se um dia em mãos de netos de cativos para ser refeito por fidalgos e quase

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