O ouro brasileiro e o comércio anglo-português. Uma contribuição aos estudos da economia atlântica no século XVIII

podem advir de causas várias como aumento de população, descoberta de novas minas de metal precioso, mudanças políticas e sociais, modificações na técnica de produção etc.

Ora, o ouro brasileiro foi descoberto exatamente no final da fase B da economia mercantilista, ou seja, no momento de transformação entre a baixa secular mercantilista e a decolagem da alta secular capitalista. Assim sendo, seria o ouro brasileiro um dos elementos permissivos do desencadeamento da mudança de estrutura? Seria ele um dos responsáveis pela dinamização da economia mundial, propulsor da alta secular sensível após 1722-43?

Outro problema surgiu-nos: conhecemos as avaliações da produção do ouro brasileiro de Soetbeer, Von Eschwege, Calógeras etc., que se diferenciam quanto às flutuações e quanto ao máximo de volume produzido. Valeria a pena reanalisar a questão, revendo documentos e acrescentando novos informes?

Quanto às fontes utilizadas para o nosso trabalho, destacamos a correspondência consular francesa, em Lisboa. Uma razão nos levou a transformá-la em coluna vertebral de nosso estudo: os cônsules e embaixadores franceses tinham a obrigação, como se verifica através das "Instruções aos Embaixadores", de manter Versalhes informada sobre a marcha dos negócios de Portugal e de seu império. Para isto, despachavam semanalmente seu correio com os informes sobre as ocorrências na Corte portuguesa. Além de testemunharem a vida em Lisboa, recebiam a correspondência dos vice-cônsules estabelecidos em outros pontos do império, possuindo assim uma visão geral das ocorrências em Portugal e no ultramar. Daí a importância que esta correspondência adquire para um estudo de estrutura e conjuntura. Pela frequência e pelo encargo de tudo notificarem, as cartas dos representantes franceses transformaram-se em verdadeiro diário da vida portuguesa no século XVIII. Desde as intrigas das alcovas reais até as relações das frotas chegadas do Brasil, nada escapa aos observadores franceses. É verdade que o fator subjetivo intervém neste tipo de documentação. Em alguns representantes percebe-se o esforço de manter Versalhes bem informada das novidades portuguesas, e para tal estabeleciam verdadeira rede de espionagem. Para outros, os informes limitavam-se à rotina e à burocracia, cumprindo seu dever com enfado e desinteresse. Um risco sabíamos que poderíamos correr: sendo observadores estrangeiros, as notícias transmitidas poderiam ser estereotipadas e tendenciosas. Para evitar

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