O ouro brasileiro e o comércio anglo-português. Uma contribuição aos estudos da economia atlântica no século XVIII

Paralelamente a estas soluções, incentivou a Coroa portuguesa a busca de metal precioso em seus domínios. Porém, em vez do metal branco, como esperava encontrar devido à proximidade do Brasil com as minas de prata da América espanhola, foram desvendadas as grandes jazidas de ouro do Brasil Central.

Justamente entre o período agudo da baixa secular mercantilista e o início da tendência secular capitalista, começaram a ser extraídas as primeiras toneladas de ouro das regiões auríferas brasileiras. Com elas, desencadearam-se profundas alterações no Brasil e no comércio colonial.

Acelerou-se a crise da região açucareira, na medida em que para as minas convergiram os interesses da Colônia. Houve o deslocamento do eixo econômico do Nordeste para o Centro-Oeste, provocado pela transferência de capitais e do elemento humano da região açucareira para a região mineira. A notícia da riqueza súbita estimulou a imigração, para o Brasil, de enormes contingentes humanos cuja condição de vida precária em Portugal e na Europa era agravada pela estagnação geral. Pela necessidade de braços para o trabalho das minas e pela sua contínua renovação, intensificou-se o comércio de escravos, alargando o tráfico Brasil-África. De toda esta convergência conheceu o Brasil a decolagem de sua demografia, até então escassa e esparsa.

O ouro, surgindo em áreas até então inexploradas, atraiu para elas aventureiros, escravos e comerciantes que determinaram a absorção definitiva da região Centro-Oeste pela Colônia portuguesa. Embora tivessem os bandeirantes paulistas palmilhado durante o século XVII as regiões do Brasil Central, a ocupação somente se efetuou no decorrer do século XVIII, com a semeação de vilas e povoados no âmago do continente. A colonização costeira, que fora a grande aventura nos dois séculos anteriores, espraiou-se no século XVIII para o sul, para o centro, para o oeste e para o norte. São Paulo, que fora a grande fronteira até o século precedente, encontra-se agora no coração da Colônia. Sacramento ao sul, Mato Grosso a oeste, Manaus a noroeste e Belém ao norte balizavam então o império português na América.

Ao contrário da economia agrícola e pastoril em que a cidade era extensão do engenho e do curral, a economia mineira estimulou a concentração urbana, provocando o aparecimento de cidades na região aurífera e estimulando o crescimento de outros centros transformados em entrepostos.

As cidades já existentes, sobretudo os portos, na medida em que polarizavam as correntes de comércio entre o Atlântico e a

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