O ouro brasileiro e o comércio anglo-português. Uma contribuição aos estudos da economia atlântica no século XVIII

região mineira, viram-se transformadas em grandes centros comerciais e núcleos de um ativo comércio. O Rio de Janeiro foi o exemplo mais típico por sua ligação direta com as Gerais. Salvador, porém, embora no início do século tivesse sofrido com a crise do açúcar, após a captação do ouro goiano, reassumiu seu papel de metrópole do Nordeste, o que é atestado ainda hoje pela opulência de seu aspecto arquitetônico setecentista. Em menor escala, no Recife o fenômeno se assemelha. Belém do Pará, na segunda metade do século, polarizando o comércio das minas mato-grossenses, transformou-se de forte avançado, em entreposto comercial.

Esta evolução foi fator de abertura de novas vias de acesso, provocada pela atividade mineira. Determinadas pelas necessidades de abastecimento das regiões auríferas, surgiram grandes rotas comerciais, fruto da entrosagem de áreas consumidoras e de áreas produtoras ou importadoras. Cortando o sertão através de rotas terrestres e fluviais, os comboios ligaram os pontos extremos do continente brasileiro. O gado, pastorejado da região platina chegava até Minas Gerais, via São Paulo. Das pastagens da região do São Francisco deslocaram-se rebanhos até Mato Grosso, via Goiás. As tropas de carga partindo dos portos, principalmente do Rio de Janeiro e de Salvador, percorriam as áreas mineiras, atingindo Cuiabá. De Belém, os comboios canoeiros penetravam as regiões do ouro mato-grossense e goiano.

As rotas de percurso do ouro e de mercadorias e gêneros alimentícios formaram os elos que vincularam as várias regiões e as integraram no império português. E os atritos com a Espanha, resultantes desta expansão, foram o estímulo para a concretização do primeiro esboço do Brasil geográfico: o Tratado de Madri.

Até o aparecimento do ouro, a circulação monetária no Brasil era reduzida, limitada pelo escasso numerário cunhado em Lisboa e enviado às colônias. Para suprir esta deficiência recorriam os colonos ou a trocas com produtos nativos transformados em moeda, como o tabaco e o algodão, ou ao comércio com as colônias espanholas, sobretudo Buenos Aires, onde adquiriam moedas de prata. Esta circunstância mantinha dominantemente um sistema de troca in natura, estimulando uma economia interna fechada e de autoabastecimento, dentro da qual os preços pouca alteração sofriam pelo fraco mecanismo da oferta e da procura. Com o advento do ouro esta situação modificou-se, na medida

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