Salvador de Sá e a luta pelo Brasil e Angola; 1602-1686

PREFÁCIO

Disse certa vez o finado Sir Richard Lodge que para a maioria dos leitores ingleses a História de Portugal é menos conhecida do que a de qualquer outro país da Europa Ocidental; e a isso acrescentou que o comum das pessoas bem informadas, ao serem interrogadas a respeito do que sabem sobre Portugal, responderão: "Oh!, Vasco da Gama, Catarina de Bragança, o Tratado de Methuen, o terremoto de Lisboa, o marquês de Pombal e a Guerra Peninsular". Talvez Sir Richard tenha feito juízo imerecido dessa pessoa bem informada, ao excluir da sua bagagem de conhecimentos os nomes de Henrique, o Navegador, e o de Luís de Camões; mas eu não o contraditaria na observação que faz mais adiante, quando acha duvidoso que algum professor inglês seja capaz de mencionar os nomes e as datas dos principais reis de Portugal.

É bem verdade que nos últimos anos algo se tem feito na Inglaterra para remediar essa grave deficiência. Os trabalhos de A. Bell, G. Young, H. Livermore e do meu distinto antecessor Edgar Prestage afastariam a acusação, outrora perfeitamente justa, de que aos estrangeiros desejosos de conhecer, através de traduções, a história e a literatura de Portugal, era indispensável saberem o alemão, e não o inglês. Os livros de M. Cheke, E. Sanceau e M. Collis têm despertado um interesse cada vez maior do público pela história e pela expansão colonial portuguesa. Há muita coisa ainda por fazer; mas é significativo que o inglês, entre todas as línguas do ocidente europeu, seja o único idioma em que, salvo os extratos encontrados na History of Brazil de Southey, não existe uma ampla tradução dos trabalhos do Padre Antônio Vieira, S. J. (1608-97), um dos maiores portugueses de todos os tempos.

Mas, se o conhecimento que tem a Inglaterra de seu velho aliado vem apresentando animadores indícios de maior difusão e profundidade, a ignorância que ali persiste no tocante à história do Brasil só pode ser qualificada de abismal. É surpreendente o número de pessoas instruídas que supõem ser o espanhol a língua falada no Brasil. Dificilmente ter-se-á escrito entre nós uma só linha a respeito do Brasil colonial depois que Robert Southey publicou, entre 1810 e 1819, os três volumes de sua obra. Com todos os seus defeitos, essa massuda History of Brazil é até hoje prestadia para o estudioso; mas a sua raridade põe-na fora do

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