Salvador de Sá e a luta pelo Brasil e Angola; 1602-1686

alcance de todos, exceção feita dos bibliófilos mais entusiastas, acrescendo a circunstância de achar-se necessariamente desatualizada em muita coisa de todo indispensável algum conhecimento do passado colonial do Brasil se quisermos formar opinião sólida sobre o presente e o futuro desse grande e adiantado país.

A importância do século XVII no desenvolvimento do Brasil há muito foi reconhecida pelos historiadores sul-americanos. Ele assistiu à consolidação do domínio português sobre a costa, com a expulsão dos holandeses do Nordeste, depois que outros invasores menos perigosos haviam sido enxotados do Maranhão e do vale amazônico. Esses sucessos, só por si, tornaram-se responsáveis pelos primeiros pruridos de sentimento nacional, sendo ao mesmo tempo testemunhas dos passos decisivos na exploração do interior pelo espírito empreendedor dos habitantes de São Paulo, que afiançavam não teria a Espanha uma participação maior do que a França e a Holanda no patrimônio sul-americano de Portugal, como durante algum tempo pareceu provável.

Para a mãe-pátria a colônia era, com segurança, de importância decisiva nesse episódio. Foram, antes de tudo, os lucros provenientes do tráfico com o Brasil que sustentaram os exércitos com os quais os espanhóis foram contidos ao longo da fronteira na longa peleja travada por Portugal contra a Espanha, para garantir a sua independência (1640-68); como também foram eles que permitiram a importação dos cereais do norte da Europa, salvando assim a população de morrer à míngua. É muito provável que ao tabaco e ao açúcar do Brasil se deveu, principalmente, o dote da nossa rainha Catarina, graças ao qual foi assegurada a necessária, conquanto dispendiosa, mediação de Carlos II na Espanha e na Holanda. Os salários de muitos oficiais de alta patente do governo central e bem assim o pagamento dos embaixadores de Portugal nas várias cortes europeias estavam diretamente a cargo do Brasil. Até a tinta e o próprio pano verde usado pelo Conselho Ultramarino em suas reuniões ordinárias, conforme estava marcado na ourela, e bem assim o salário do porteiro, corriam por conta do Brasil. Foi graças aos recursos provenientes daquilo que o rei D. João IV chamou, com muita propriedade, de "vaca de leite" brasileira, que Portugal escapou de ter a mesma sorte da Escócia e da Catalunha.

O lapso de tempo em que viveu Salvador Correia de Sá e Benavides (1602-86) coincide, aproximadamente, com o século dezessete, durante todo o qual ele desempenhou importante papel nos dois lados do Atlântico, envolvendo-se ativamente, e não raro de modo decisivo, nos mais diversos assuntos, tais como a exploração (a explotação, inclusive) do interior, o dissídio entre colonos e jesuítas em torno da escravização dos ameríndios, a luta com

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