Salvador de Sá e a luta pelo Brasil e Angola; 1602-1686

os holandeses no tocante ao mercado de negros sul-africanos, e a revolução em Lisboa, cujo resultado foi a deposição de D. Afonso VI. Nenhum outro acontecimento histórico simboliza tão nitidamente a mútua dependência então existente entre Portugal, Brasil e Angola, e tampouco as relações da América do Sul portuguesa com a espanhola. Pondo isso de lado, não existe, que eu saiba, para o leitor moderno, em qualquer língua, uma só biografia completa de algum dos governadores da província do Brasil colonial.

Os perigos de "vida e época", como processo de escrever a História, já foram apontados, entre outros, pelo Professor G. J. Renier. Observa o distinto historiador holandês que, excetuados os autores de mais agudo espírito crítico, tal método leva o escritor a exagerar o papel desempenhado pelo seu herói, resultando, não raro, serem as biografias inspiradas naquele método um quadro muito tendencioso da época que eles pretendem retratar(1). Nota do Autor

Sem pretender apresentar-me como um modelo de autodomínio, fiz o possível para fugir àquela balda. Não envolvi o meu herói em assuntos ou lugares em que pouco ou nada teve ele que fazer; mas esforcei-me por descrever certos aspectos da cena em que portugueses e brasileiros foram atores durante o século dezessete, mais pormenorizadamente do que, via de regra, é de uso nas histórias clássicas.

Para traçar a presente biografia, decerto teria sido melhor ter em mãos abundante material inédito constante dos documentos de família; estes, porém, desapareceram, ou, o que é mais provável, nunca existiram. Os fidalgos portugueses eram avessos a escrever cartas e raramente confiaram ao papel suas memórias, manifestando uma aversão pelo registro dos assuntos relativos à vida privada, de que não participavam os seus contemporâneos britânicos, holandeses e franceses. Em compensação, a face oficial da vida de Salvador Correia acha-se muito bem documentada, abstração feita de suas primeiras campanhas, no Paraguai e no Peru.

Não falando no capítulo introdutório, que é como uma mise-en-scène, e necessariamente fundamentado em obras secundárias (porém do século dezessete), o grosso do que se contém no presente livro baseia-se em documentos existentes nos arquivos de Portugal e do Brasil. Muitos deles já foram dados a lume, uma ou outra vez; mas essas versões se acham dispersas em publicações periódicas de Portugal, Brasil e Angola, das quais não se pode encontrar séries completas em nosso país, ou nele são excessivamente

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