Salvador de Sá e a luta pelo Brasil e Angola; 1602-1686

Capítulo I

O CASAMENTO COM ESPANHOLA


A objeção que comumente se faz às alianças matrimoniais na Espanha, e se traduz no provérbio "de Hespanha nem vento nem casamento", deriva em grande parte de uma recordação de Filipe II, de Castela, o "demônio do Meio-dia", cuja mãe e cuja primeira mulher eram princesas de Portugal. Sua descendência da casa de Avis deu a Filipe o direito de reclamar para si a coroa de Portugal, quando se travou a luta pela sucessão, após a morte do decrépito Cardeal D. Henrique, em 1580. Sua pretensão, aliás legal, teve para reforçá-la os veteranos do duque de Alba e as "balas de prata" mexicanas, numa judiciosa associação que o habilitou a vangloriar-se de seu novo domínio: "eu o herdei, eu o comprei, eu o conquistei" ("yo lo heredé, yo lo compré, yo lo conquisté").

De 1580 a 1640, Espanha e Portugal eram uma monarquia dual, de certa maneira nos moldes da Inglaterra e Escócia, entre 1603 e 1702. Mediante acordo entre a monarquia espanhola e as cortes portuguesas (Parlamento) de Tomar, que em 1581 legalizaram formalmente a tomada do trono de Portugal por Filipe II, continuaram aqueles dois países, com as suas colônias, a ser administrados em base exclusivamente nacional, como até então. Assim, Portugal, em teoria, e suas colônias, tanto na teoria como na prática, conservaram a sua independência administrativa durante a união pessoal das duas coroas nos reis do ramo hispânico da dinastia dos Habsburgos. Embora comumente se diga o contrário, os reis espanhóis respeitaram escrupulosamente esse compromisso durante as primeiras décadas do regime, não raro em detrimento de seus primitivos súditos, a cujos clamores se mantinham indiferentes. Os funcionários das colônias sul-americanas queixavam-se, com frequência, de que, enquanto os portugueses não toleravam a presença de castelhanos em seus territórios ultramarinos, comerciantes portugueses, e até colonos, enxameavam por toda parte nos vice-reinos do México e do Peru. Não obstante,

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