Resulta da averiguação que as acusações são fantasiosas: sua mãe morrera quando contava seis anos de idade; sua mulher está viva no Ceará. Dá-se o regresso à Bahia. Continua a percorrer Os Sertões seguro dos seus atos e amado do povo, do mesmo modo que o fizera em Pernambuco e Sergipe.
OS DESGRAÇADOS BUSCAM MENDES MACIEL
Vive a consolar, dar conselhos e orientar as miseráveis populações abandonadas e perseguidas pelo fisco e pelas autoridades. A maioria dos que se lhe chegam e lhe contam a sua revolta é de pequenos proprietários esbulhados do que era seu.
A rapacidade fiscal fundada, por antífrase, no direito do fisco. A exação com todo rigor. Não pretende parte nos lucros, mas tudo. Somente por ficção histórica e legal se pode falar em direito de propriedade privada, máxime a territorial. Com tal procedimento é também liquidado o trabalho, passa a haver falta de trabalho.
Aos exatores rapaces da fazenda pública se há de acrescentar a rapinagem e avidez de chefetes locais ou de soldados da polícia.
Vai-se assim o sossego do povo e é maculada a honra das pessoas. Tudo em detrimento da dignidade, da justiça, da liberdade, por vezes sem os violadores saírem da legalidade, como se o direito fosse só o editado pelo Estado ou outra pessoa pública. Legalidade e justiça não têm muitos pontos em comum.
Antônio Maciel também reza com o povo e faz-lhe prédicas. Mas, as orações têm a sua hora e as prédicas o seu dia. Trabalho, todos os dias.
Não faz milagres nem os seus entusiastas admiradores lhe atribuem a prática de qualquer milagre. Não usurpa funções sacerdotais, nem de médicos, nem de farmacêuticos. Não é curandeiro. Não lhe chamam Bom Jesus. Não se inculca enviado de Deus. Não é profeta. Apenas prega a doutrina dos evangelhos e a da tradição da igreja católica romana. É pregador leigo como muitos outros da história da Igreja e como hoje é até recomendado pela Igreja.
Colocando-se ao lado do povo pobre e necessitado, espoliado e oprimido, Antônio Conselheiro levanta contra si certas