Instala ali o seu povo, centenas de pessoas. Constroem as suas casas, simples, de pau a pique, mas com as dependências necessárias. Habitações iguais às de todo o sertão da província. Gente pobre. Providenciam os serviços indispensáveis à vida comum. E, sem tardança, se põem a lavrar a terra e plantar cereais. Limpam os pastos e criam gado cavalar, vacum e caprino.(19) Nota do Autor
Trabalham sossegados, sem a perseguição do fisco, de soldados, de autoridades estranhas. A seu lado, entre os seus, o Conselheiro conta com excelentes auxiliares para a administração, não só homens devotados, mas inteligentes e práticos.
Sobre a vida material e as atividades dos canudenses, assim como sobre a vida moral e espiritual daquela gente operosa e pacata, há depoimentos que não deviam ser relegados, como foram, ou apenas trasladados nas partes que atacam o chefe e sua gente.
Diz Euclides que "o arraial crescia vertiginosamente, coalhando as colinas".(20) Nota do Autor O barão de Jeremoabo, fazendeiro por aqueles lados, refere que alguns lugares da Bahia e "até de Sergipe ficaram desabitados, tal a aluvião de famílias que subiam para os Canudos".
César Zama, ilustre médico, famoso e culto escritor, deputado federal baiano, combativo, em 1899 escreve libelo virulento contra os que destruíram Canudos e, além de o destruírem, caluniaram o seu povo e o seu chefe.
"A guerra de Canudos — afirma César Zama — foi o requinte de perversidade humana... A justiça estadual não se ocupava dos habitantes daquele arraial. Contra eles não se havia instaurado processo algum. Nos cartórios do Estado nenhum deles tinha o seu nome no rol dos culpados.
Nada de extraordinário se passava com Antônio Conselheiro e aqueles que o acompanhavam.
Ninguém ignora que gênero de vida levavam os canudenses: plantavam, colhiam, criavam, edificavam e rezavam.
Rudes, ignorantes, fanáticos talvez pelo seu chefe, que reputavam Santo, não se preocupavam absolutamente de política.
Antônio Conselheiro porém confessava-se monarquista. Era seu direito, direito sagrado, que ninguém poderia contestar num regime republicano democrático. Não há ato algum por"