Ao partir do arraial do bom Jesus é que decide localizar-se com o restante do seu grupo na fazenda também abandonada de Canudos.
Sem mais demora, passo à narração da vida econômica dos canudenses, valendo-me das poucas fontes de que se dispõe presentemente.
A principal nota, a que mais impressiona, do futuro Belo Monte, é a do desamparo completo em que jaz no momento da chegada de Antônio Conselheiro à fazenda de Canudos. Nenhum habitante. A casa grande da sede e a capelinha, em ruínas. Três casinhas, caindo aos pedaços. Nenhuma plantação, nenhum cultivo. Únicos animais, as cabras. É o quadro da decadência absoluta. Por que tal declínio e tão miserável situação? Não é possível conhecê-lo, hoje. E por que a preferência? Contento-me com tal decisão provir de Antônio Conselheiro, inteligente, vivo, experiente, conhecedor de longa data de toda aquela região. E conhecedor perfeito. Não lhe oferece segredos o nordeste da Bahia.
Está em condições, portanto, de avaliar o que poderá fazer ali, daquele momento por diante.
Primeiramente, conta com a sua gente. Povo ordeiro, trabalhador, numeroso. Famílias e não indivíduos. E com auxiliares inteligentes, decididos e experimentados.(7) Nota do Autor
Depois, a terra boa, não obstante a aparência de sáfara, aliás pelo descultivo em que se encontra de longa data. Na região não são más as terras; boas até para pastagem do gado.(8) Nota do Autor
O rio Vaza-Barris, ao menos três meses cada ano, com os seus cem metros de largura, oferece água abundante. É a salvação do vale. Na maioria do período restante do ano, escavam-se três ou quatro palmos e surge a água.(9) Nota do Autor São as cacimbas. Ao lado, uma lagoa formada também pela água do rio, mas "que sempre se conserva cheia".(10) Nota do Autor