Os quebra-quilos têm entre si o parentesco da pobreza e potencialmente sempre foram inimigos daqueles a quem consideravam exploradores, mal sabendo, talvez, exprimir o conceito dessa palavra, sentindo porém que lhes tentavam impor as suas próprias regras. Essa situação traz em si os germes do movimento. Ao romper-se o equilíbrio social, mal conservado pelas contradições dos proprietários nordestinos, pela revolta contra a nova lei de alistamento militar, implantação de um novo sistema de pesos e medidas, ressentimentos religiosos e reação contra o excesso tributário, foi inevitável o aparecimento de um tipo especial de bandido social, transitório, às vezes paradoxalmente conservador, que é o líder quebra-quilos.
O fenômeno não é singular nem histórica nem geograficamente. O cangaço nordestino, paralelamente à sua marginalização no sentido de criminalidade comum, tem exemplos bastante conhecidos de banditismo social. Na Calábria, os camponeses muitas vezes foram para as montanhas por razões pessoais concomitantes a querelas e questões com o Estado ou com a classe dirigente.
Assinala com razão Hobsbawn que o "banditismo social é um fenômeno universal e virtualmente imutável; é mais que um processo endêmico de camponeses contra a opressão e a pobreza: um gesto de vingança contra os ricos e os opressores, um vago sonho de poder para impor-lhes um freio, justiçar os erros individuais. Modesta é a ambição dele: um mundo tradicional em que os homens sejam tratados justamente e não um mundo novo e perfeito. Ele se torna mais epidêmico do que endêmico quando uma sociedade rural que não conhece outros meios de autodefesa se encontra em condições anormais de tensão e desmembramento". No Brasil, o final do século XIX não apresenta somente a crise de um sistema político, mas também uma crise das formas de produção e dos relacionamentos sociais tradicionais.
As lideranças no Quebra-quilos são efêmeras e o banditismo social mescla-se com agressividades momentâneas de homens e mulheres rotineiramente pacíficos, resignados e quase sem aspirações reivindicatórias. Enfim, não tiveram organização duradoura e sua ideologia foi vaga e imprecisa. Inserindo-se nessa categoria arcaica, aparecendo muitas vezes como uma sedição pré-política, o movimento Quebra-quilos não pôde ser absorvido pelas ideias republicanas e abolicionistas que agitaram o País nas últimas décadas do século passado. Foram pálidas, embora existentes, como será documentado, suas reivindicações ligadas à Abolição e muito confusas suas exigências de proteção social.