Quebra-quilos. Lutas sociais no outono do Império

Em diversas cidades o Quebra-quilos não passa de uma turba, sem atingir, ao menos, a gradação de sedição. Se bem que o conceito de turba seja extremamente elástico e plurivalente, aplicável, na maioria dos casos, a movimentos pré-políticos urbanos, a circunstância especial de grupos de quebra-quilos, na sua grande maioria agricultores, viverem na periferia de cidades ou vilas e de os acontecimentos marcantes de sua atuação terem lugar nas feiras, nas igrejas e nos cartórios, enfim, nos centros econômicos e sociais de comunidades urbanas pré-industriais, a subversão da ordem coloca-se precisamente nesse nível.

As sedições dos quebra-quilos - tomadas aqui em sua pluralidade, em virtude da ocorrência variada e distribuída em áreas distintas - poderiam ser encaradas como reformistas, de maneira apenas limitada. Raramente os matutos que tomam parte na agitação concebem a construção de uma nova sociedade. O que pedem, em seu limitado universo mental e político, é a correção do que lhes parecem anormalidades e injustiças da velha ordem tradicional. Não familiarizados com a ideia de tomada de poder, os quebra-quilos, na sua pobreza, têm, como categoria histórica, paradoxal paralelismo com certos movimentos da burguesia colonial, que não tendiam à mudança dos quadros dirigentes e do regime e tão somente tiveram reivindicações eventuais de caráter econômico. A revolta de Beckman, no Maranhão, seria um exemplo a considerar. A Balaiada lhe está próxima.

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