2. O QUEBRA-QUILOS E A ECONOMIA NORDESTINA
Economicamente desgastado o Brasil, desgastara-se também sua Casa Imperial.
A erosão da Monarquia brasileira não passou despercebida a Henri Allizé, diplomata francês, cujo interessantíssimo depoimento sobre o Brasil de 1886, completa a ótica externa de Wenzel de Mareschal, de Wash, de Mawe, de Luccock, de Seidler, de Soix e do nosso Koster. Allizé registra, sem intelectualismos, com certa non chalance, um império cujo monarca era interessado em questões de Estado apenas no que exigiam as trepidações dos partidos. Estes, ficção legal da representação popular e exterioridade vistosa do anglicismo parlamentar, não correspondiam mais às realidades do último quartel do século XIX.
O Império mumificou-se na sua capacidade de promover reformas. A calmaria de seu ocaso é a última etapa da lise de suas instituições. O Quebra-quilos, no Nordeste, é uma dimensão da crise que a sua imobilidade não soube ou não pôde evitar.
As consequências sociais da concentração fundiária, entretanto, já haviam sido detectadas. Um antecessor de Henrique Pereira de Lucena no governo da Província de Pernambuco, Diogo Velho Cavalcante de Albuquerque, paraibano que a governou em 1871, já constatara o quanto era nefasto o domínio do latifúndio na sua jurisdição, com palavras de permanente atualidade e rara acuidade histórica: "Realmente, há uma parte de nossa população profundamente desmoralizada, perdida até; mas resta uma grande massa, donde podem sair braços uteis. Que garantias, porem, acha esta para seus direitos, que segurança para os serviços que presta, que incentivo para preservar nas boas practicas? A constituição de nossa propriedade territorial enfeudando vastissimas fazendas nas mãos dos privilegiados da fortuna, só por exceção permite ao pobre