Quebra-quilos. Lutas sociais no outono do Império

12. A ESCRAVIDÃO E OS QUEBRA-QUILOS

No outono do Império, p problema da grande propriedade, sempre tão resguardado nos debates parlamentares, foi discutido, muito avançadamente, por um visconde, o marechal de campo do Exército brasileiro e Ministro do Supremo Tribunal Militar, Henrique de Beaurepaire Rohan, em opúsculo, hoje raro, intitulado O futuro da grande lavoura e da grande propriedade no Brasil. Curiosamente, na mesma ocasião, um dos líderes do Partido Liberal, João Luís Cansanção Sinimbu, presidindo o 1° Congresso Agrícola, proclamava que "a grande propriedade tem sido e continuará ainda por muitos anos a ser a poderosa alavanca do nosso progresso em suas variadas manifestações - progresso moral, social, econômico e político". O marechal Beaurepaire Rohan dissera, com percuciente entendimento, que cumpria "não confundir a grande lavoura com a grande propriedade", e que a grande lavoura na grande propriedade tinha podido manter-se por meio do elemento servil. E profeticamente completara: "não está longe a época, em que não haverá mais um só escravo no Brasil". Beaurepaire Rohan fora incisivo ao condenar a escravidão, e lamentara que o escravo "tão pouco interessado nos lucros do seu senhor, é entretanto compelido ao trabalho por esses meios violentos, que estão em uso, e que tão negra estigma imprimem em nossa moralidade". Simples e incisivamente escrevia que o porvir da lavoura e a riqueza do País estariam seguros, se fosse tomada uma medida espantosa para a época: a conversão dos escravos em colonos e transformação das fazendas em colônias agrícolas (1) Nota do Autor.

Infelizmente o ideário do Marechal não tinha infraestrutura. A reação a qualquer modificação profunda na organização fundiária,

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