sempre se antepusera aos planos político-filantrópicos da época, jogando-os no limbo das utopias sociais.
Rohan, com certa ingenuidade, recomendara o retalhamento da grande propriedade, condição que considerava indispensável ao desenvolvimento da lavoura, e duvidava que os fazendeiros não compreendessem essa necessidade. O sistema da grande propriedade continuou, e o regime escravista sobreviveu sustentado pelo latifúndio indene ao moroso processo político das leis abolicionistas. Em 1873, entretanto, já duvidava o próprio Governo da eficácia produtiva do braço escravo. Diria o Ministro Costa Pereira, nas vésperas do Quebra-quilos, que "o trabalho grosseiro do escravo dava, em regra, um produto mal preparado". Malgrado o fracasso, em Pernambuco, da tentativa de substituir escravos, nos trabalhos mais especializados, por operários alemães com a criação da Companhia de Operários, que mereceu de Marta Pimentel e Emilia Augusta Freire acurado estudo (2) Nota do Autor, o que se nota é que a força de trabalho transferia-se lentamente para o braço livre.
A escravidão, por ocasião da eclosão do Quebra-quilos, já era, no Brasil, uma instituição em decadência. Como observou Max Weber, a escravidão somente é rendosa, quando se a obtém com estrita disciplina; vai associada a uma explosão implacável, e reúne, entre outros requisitos, a possibilidade de se procurar escravos e alimentos a baixo preço, e de se desenvolver uma cultura depredatória que, por sua vez, requer disponibilidades ilimitadas de terra. Na madrugada do último quartel do século XIX, já não havia, de modo geral, no Nordeste, ambiente para adoção desse estágio escravocrata. Não foram mais brandas do que as características apontadas por Weber as situações vividas anteriormente pelos escravos no início da colonização, e, por isso, entre outros condicionamentos, a vingança africana cultivaria, lentamente, nos latifúndios nordestinos, a criminalidade e a revolta.
Ao desarticular as sólidas estruturas sociais da casa-grande, a invasão holandesa possibilitara, a grande número de escravos, a fuga para aldeamentos no interior, protegidos pela natureza e pelo medo dos brancos. Os quilombos são consequência histórica dessa desarticulação senhorial, de seu comércio interno e externo, opção entre a continuidade da submissão resignada das senzalas e a liberdade.