Quebra-quilos. Lutas sociais no outono do Império

Depois da seca de 1877, a situação do País piorara visivelmente, e os efeitos do declínio econômico eram, naturalmente, mais vividos pelo homem comum, pelo funcionário modesto, pelo pequeno comerciante e pelo "jornaleiro", designação genérica dos assalariados, da época. O câmbio acusava baixas, que, publicadas nos jornais, agravavam também a insatisfação da burguesia mercantil exportadora de produtos tropicais primários, sem, contudo, enfraquecê-la.

A contestação popular apresentou a síndrome da violência, quando o Ministro da Fazenda, Afonso Celso, determinou a cobrança de uma taxa nas passagens de bondes, o que obviamente atingiria milhares de pessoas que os usavam. A própria Botanical Garden Railroad Co., empresa americana que explorava o serviço de carris urbanos no Rio, compreendeu que seria prudente sugerir ao Governo que a cobrança do imposto fosse feito diretamente à Companhia, numa estimativa proporcional ao número de passageiros que se serviam de seus veículos, ou seja, a quantia de 120 mil-réis, pagável em parcelas mensais de dez mil-réis. Desse modo a população não seria diretamente atingida por mais um tributo. As outras companhias, entretanto, não queriam ou não se achavam em condições para assumir a nova responsabilidade, o que fatalmente resultou na determinação legal de que o imposto deveria ser pago pelo público. Assim, a partir de 1° de janeiro de 1880, data em que o novo tributo deveria entrar em vigor, quem fizesse um percurso nos bondes do Rio de Janeiro era devedor não somente da passagem normal mas também do respectivo imposto.

Nos últimos dias de dezembro o Ministro da Fazenda já ganhara a alcunha de "Afonso Vintém", e a imprensa oposicionista recebera material bastante explosivo para alimentar comícios e manifestações populares contra a nova tributação. Uma multidão, aproximadamente quatro mil pessoas, dirigiu-se ao Paço de São Cristóvão, com o intuito de entregar ao Imperador um memorial, no qual se pedia a revogação imediata do imposto, medida que se justificava pelo pesado ônus que este representava na baixa renda da maioria dos habitantes da Capital do Império.

A guarda do Paço impediu que os líderes da marcha popular tivessem acesso ao Imperador, e isso nada mais fez que agravar descontentamentos. No dia 1° de janeiro, o policiamento da Capital fora aumentado, e as forças de linha distribuídas em locais de grande movimento ou junto às estações. De nada valeram essas providências. A população irada iniciou uma incontrolável obstrução

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