constituindo-se em pautas culturais bem estratificadas. Compreende-se, portanto, a reação natural das populações menos esclarecidas, não somente no Nordeste de 1874, porém na própria Corte, em 1871.
A primeira notícia na imprensa sobre o movimento Quebra-quilos, na Paraíba, foi publicada pelo O Despertador, a 7 de novembro de 1874, em termos tão amenos, que nada indicava, no relato das ocorrências do interior paraibano, ser aquele jornal um órgão da oposição. Registrava-se apenas ter havido um "conflito", na povoação de Fagundes, do termo de Campina Grande, entre o povo e a polícia, em consequência dos novos impostos lançados pela Assembleia Provincial, do qual resultaram alguns feridos.
Timidamente O Despertador acrescentava que esses impostos "tão agravantes para a pequena industria e a pequena propriedade já sobrecarregadas podem não ser verdadeiros e caso se trate de boatos, deve o presidente publicar o orçamento para desvanecer as apreensões do povo". Entretanto, as notícias que, logo em seguida, apareceriam no Jornal da Parahyba, órgão do governo, diziam que os distúrbios de Fagundes eram "oriundos dos impostos municipais de uma comarca liberal" e o que se queria era "ferir a administração".
É bastante curioso o duelo jornalístico entre O Despertador e o Jornal da Parahyba, nesses primeiros dias do movimento. Representando a mesma estrutura social, malgrado suas posições partidariamente antagônicas, tanto para liberais como para conservadores, os acontecimentos de Fagundes tinham o perigoso aspecto de subversão da ordem econômica e social, e, consequentemente, deviam ser olhados com a cautela e a severidade que se impunham, por se tratar de uma agressão à ordem então vigente.
Uma semana após a publicação da primeira notícia sobre os quebra-quilos, um tanto ironicamente o jornal do governo, em editorial sob o título "Campina Grande", diz que O Despertador não deveria temer a revolução nessa cidade, "pois a população de Fagundes tem se tornado remissa ao pagamento dos impostos municipais e atribui-se a causa de semelhante impugnação à extinção do juizado desse distrito" (3) Nota do Autor.
A polêmica jornalística, tão ao gosto da época, tomará, pouco a pouco, as páginas dos dois jornais e oscilará entre frases de efeito, picuinhas, sarcasmo noticioso e informações mais ou menos verídicas.