Quebra-quilos. Lutas sociais no outono do Império

Numa apóstrofe ao O Despertador, diria o Jornal da Parahyba que o "ato de Fagundes é obra de seus instrumentos naquela localidade, não só pelas doutrinas apregoadas em seus periódicos como espalhados ocultamente no seio do povo". E para acicatar o adversário, diria, também, que sua asserção não se referia ao Partido Liberal da Paraíba e sim ao "partido de O Despertador".

N'O Despertador (4) Nota do Autor, o Diretório do Partido Liberal, em manifesto oficial, dirimiria dúvidas a respeito, dizendo-se completamente estranho aos movimentos populares ocorridos na Província.

A hipótese da participação de jesuítas no conflito fora logo aventada, baseada, aparentemente, na circunstância de não terem os sediciosos líderes ostensivos. Consequentemente, seria o movimento uma "conspiração tramada nas trevas" e extremamente ramificado.

Ao chegarem as primeiras notícias das agitações do Ingá, as autoridades da Paraíba ficaram atemorizadas, não sabendo precisar a extensão e a gravidade do movimento. Segundo relato de O Despertador, no dia 21 de setembro de 1874, o povo da Vila do Ingá arrombara a casa da Comarca, destruíra todos os papéis que nela encontrara, não obstante as ponderações e exortações do vigário Bento José Barros Mendonça, e obrigara o comandante de Polícia, Aranha, a assinar um compromisso, no qual garantia acabar com os novos impostos, a lei do recrutamento, a aplicação dos novos pesos e medidas e custas judiciais. No dia seguinte, Aranha abandonaria, às escondidas, a vila conflagrada.

Silvino Carneiro da Cunha, Presidente da Província, desconsoladamente diria que estava "sem forças para manobrar, sem meios para fazer seguir em perseguição desses desordeiros que certos de nossa fraqueza, ameaçam-nos a cada instante...". Seus inimigos não o pouparam, na hora da aflição. Nas páginas polêmicas e contundentes de A Província, o eco de seu queixume foi cruel: "Não afirmava e ainda não afirma o governo, que tem o decidido apoio da nação? Pois já chegou a vez de se confessarem fracos e repelidos pelo povo. É pena que só tão tarde o Sr. Silvino se reconhecesse nulidade, sem meios para perseguir as vítimas dos impostos criados por ele, e mais por esse governo patoteiro, que flagela o país para gozar da abundancia, dos confortos, do luxo e de todos os meios de corrupção. (...) Impotentes, fracos e repelidos pela opinião pública tremem nos seus covis, e pedem tropa, mais tropa - unico recurso dos despotas".

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