Apesar do impacto causado em 1776 com a publicação da obra do escocês A. Smith, destinada a empolgar aquele país e o mundo, divergiam fundamentalmente, no começo do século XIX, governo e populações das cidades industriais em matéria coberta pela aludida obra(5) Nota do Autor. É protecionista em política tarifária a Inglaterra de então, exatamente enquanto pugna pela abertura dos portos do império colonial espanhol e português da América ao "livre comércio".
Fora precisamente Castlereagh quem, na pasta do Exterior, conseguira atrair o governo de sua nação para a utilidade do sistema de conferências europeias e dos tratados nelas conseguidos, veículo para acréscimo de prestígio e riqueza nacionais(6) Nota do Autor, dentro do espírito de A. Smith, mas certamente fora da ética dessa obra. Persistiu, de fato, Castlereagh até 1820, data da morte do mais personalista dos Jorges, nessa ideia de aliança continental e europeia, que havia sido talvez o fecho (mas não a chave) da vitória das armas britânicas contra Napoleão.
A liberalidade com que os ingleses puderam dispor das posições estratégicas do império colonial português, igualmente marítimo, constituiu um importante apoio para tornar menos contundente o bloqueio napoleônico nos mares, onde ele teria sido fatal, mormente se tivesse contado com mais navios para levá-lo a efeito. As possessões portuguesas no Atlântico constituíam peças importantes do poderio britânico, e o seu destino de há muito era objeto de considerações e relatórios políticos. A esse respeito os Arquivos do Almirantado são tão ou mais informativos que os documentos do Board of Trade.
No entanto, as guerras napoleônicas em seu desfecho europeu colocaram a Grã-Bretanha à volta das mesas de conferências da Europa, onde Castlereagh procurou, desde logo, obter para seu país o melhor dos dois mundos: do "Continente" e do mundo de além-mar, no qual o Atlântico ainda avultava em importância.
No Novo Mundo, que se esboçava, disputou o comércio cujas oportunidades sempre atraíam a Grã-Bretanha. No Velho Mundo os acertos, os tratados e alianças que pudessem garantir, por meios legítimos, seus interesses comerciais, especialmente na América do Sul, sem afetar, se possível, a balança de poder e a conservação das alianças europeias.