A Revolta dos Marinheiros, 1910

alinhar entre as potências que combatiam o Eixo Roma-Berlim. O nosso despreparo material era extremo. Devemos (contando, em verdade, com o auxílio norte-americano), principalmente à existência de uma organização naval, com tradições, formação moral, conhecimentos técnicos, termos podido, em pouco tempo, saltando etapas, enfrentar tarefa hercúlea que foi dar proteção a mais de 500 comboios, incorporando milhares de navios de todas as nacionalidades, que singravam o Atlântico, cujas águas estavam longe de ser pacíficas e seguras, pois, entre 1942 e 1944, nelas foram destruídos 16 submarinos inimigos.

Como nos organismos humanos que, gozando de aparente higidez física, uma crise dolorosa, com sofrimento, alerta para a necessidade de cuidados que afastem o perigo mortal que sub-repticiamente ameaça a vida do paciente, também os organismos sociais muitas vezes com um tratamento de choque são levados a abandonar caminhos desagregadores e recuperarem, com realidade, a capacidade de bem cumprir suas funções.

Isto aconteceu na Marinha de 1910. A provação foi cruel. Seus valores mais caros estremeceram sob ataques violentos, não só desfechados pelos amotinados, como sobrevindo de elementos responsáveis, o Congresso e a opinião pública, comandada esta pela imprensa, que confundiram concessões, não há dúvida que justas, mas que não poderiam vir isoladas, pois envolveriam também uma revisão do tipo de homens que guarneciam nossos navios, com o terror que infundiam "os maiores canhões do mundo" apontados para a Capital do País. E desencadearam, com palavras e escritos, uma campanha de que foi vítima a administração naval. Seus oficiais foram acusados de barbarismos gratuitos, de descumprimento deliberado de preceitos legais, de imperícia profissional e até de covardia, quando nem congressistas nem jornalistas ignoravam o que se passava de errado em nossas Forças Navais, desde muito tempo: o recrutamento forçado de maus elementos, a chibata como uma tentativa defeituosa e desatualizada de corrigir essa situação, a estagnação de muitos anos substituída por uma imatura aquisição de unidades que, para operar e manter, ainda não estávamos preparados estrutural e profissionalmente.

O Legislativo e a opinião pública, esta através dos meios de comunicação da época, poderiam, e deveriam, em tempo útil, erguer suas vozes denunciando a situação defectiva de uma instituição que pertencia a todos, à Nação, e não somente àqueles que a dirigiam,

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