2º) Analisar o vocábulo restaurado e verificar se, no seu longo evolver, as modificações experimentadas se fizeram segundo as regras filológicas que regem a espécie, o que servirá de confirmação ao que se houver conseguido pelo processo histórico. Assim, por exemplo, com a palavra boçoroca, cuja procedência é de ybyçoroca, significando terra rasgada ou rasgão, ruptura; uma vez analisada, verifica-se como sucessivamente se lhe transformaram e caíram os sons que a compõem, segundo a lei do menor esforço.
De yby-çoroca fez-se, pela defeituosa pronunciação do y, ubuçoroca, e, pela queda da vogal muda inicial, bu-çoroca, donde, sem mais esforço, se chegou à forma atual buçoroca, que é a mais conforme à etimologia, ou boçoroca, voçoroca, como já outros escrevem.(253A) Nota do Autor
3º) Decompor o vocábulo restaurado etimologicamente pelos elementos aglutinados, sempre fáceis de destacar, colocando-o, por esse modo, em condições de ser traduzido. O nome Jacarepaguá, eminentemente descritivo, quase nenhuma corrupção experimentou, a não ser a queda de uma vogal muda no meio do vocábulo, e, portanto, fácil é decompô-lo nos seus elementos aglutinados: Jacaré-upa-goá, traduzindo-se: vale da lagoa dos jacarés.(254) Nota do Autor
4º) Ter sempre em vista que as denominações tupis das localidades ou dos indivíduos, como todos os epítetos de procedência bárbara, são de uma realidade descritiva admirável, exprimem sempre as feições características do objeto denominado, como produto que são de impressões nítidas, reais, vivas, como soem experimentar os povos infantes, incultos, no máximo convívio com a natureza. Exprimem também meros acidentes em uma circunstância qualquer, mas que deixaram viva recordação no ânimo do selvagem.
Assim é, por exemplo, que temos nomes propriamente descritivos: Butu-cabaru, monte que serve de cavalo às nuvens; Para-hy-tinga, rio de água branca; Itá-hy, rio das pedras; Ibitiroy (Ybitir-roy), cerro frio; como temos nomes recordando uma circunstância habitual: Jabacoára, esconderijo de fujões; Ara-coára, esconderijo ou paradeiro das araras; Pirati-óca, morada ou paradeiro das tainhas. Outros acusam uma produção característica: Pirituba (Piri-tyba), juncal; Caraguatatuba (Caraguatá-tyba), gravatazal; Sepetiba (Sapé-tyba), sapezal.