O tupi na geografia nacional

Ambos os trabalhos forneceriam abundante material de confronto entre o nheengatu e o tupi de Anchieta e Figueira, cujas gramáticas foram fielmente reproduzidas, na mesma época, por Júlio Platzmann; a de Anchieta, em 1874 e 1876 e a de Figueira, em 1878.

O guarani foi ainda melhor aquinhoado. Em 1876 saíram duas edições da grande obra de Montoya, uma organizada por Platzmann e a outra por Varnhagen.

Os apaixonados da nossa linguística indígena estavam finalmente aparelhados para levar avante os seus estudos de tupi, guarani e nheengatu em terreno mais ou menos seguro, embora com grande desvantagem para o tupi, ao qual faltava um bom dicionário da época de Anchieta, Araújo e Figueira, que lhes coadjuvasse o exame dos textos.

Os tupinistas só dispunham naquela época do Dicionário Português e Brasiliano, relativamente raro; do Dicionário da Língua Tupi, de Gonçalves Dias e do vocabulário publicado na Crestomatia Brasílica, de Ernesto Ferreira França, em 1859.

Destes três, nenhum corresponde ao tupi do primeiro século de catequese, ainda que o último dele procure aproximar-se pela utilização dos autores antigos. O seu pequeno desenvolvimento e a reprodução descuidada foram certamente os motivos principais do escasso aproveitamento que teve. Certas tendências para o nheengatu já são nele bem visíveis.

No Dicionário Português e Brasiliano, heterogêneo a seu turno em mais de um aspecto, avoluma-se o tupi decadente do século XVIII, do nheengatu em franco desenvolvimento no antigo Estado do Maranhão. É a este, infelizmente, que Teodoro Sampaio, à falta de outro melhor e mais antigo, se viu obrigado a recorrer com maior frequência.

Finalmente, o Dicionário da Língua Tupi sofre do insanável defeito de conter, a esmo, tudo quanto de velho e novo havia chegado às mãos do seu compilador, que, nem por isso, conseguiu preencher as grandes lacunas e dar a seu trabalho uma feição prática.

Juntemos à indigência material de todos a desnorteante falta de unidade, as incoerências gráficas, os erros de leitura e impressão, a falta quase absoluta de textos conhecidos, e teremos elementos sobejos para compreender o decepcionante abandono em que ficou o estudo do tupi propriamente dito.

O fato é que os pobres vocabulários pseudotupis foram relegados a segundo plano e com eles, lastimavelmente, também as gramáticas tupis de Anchieta e Figueira.

Dos aficionados por assuntos linguísticos tupi-guaranis, uns passaram a dedicar-se ao guarani antigo, que oferecia material abundante e variado, enquanto outros, com igual ardor, se votaram ao nheengatu, língua

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