O tupi na geografia nacional

A confusão era generalizada e vinha de longe. Desde 1832,(3) Nota do Autor Martius havia adotado o genérico tupi para a família hoje designada por tupi-guarani. Porto Seguro seguiu-lhe as pegadas, chegando mesmo a declarar nas obras guaranis de Montoya por ele reeditadas, que, ao invés de língua guarani, fora preferível dizer língua tupi. Para Couto de Magalhães tupi e nheengatu eram sinônimos e o guarani um simples dialeto deles. Batista Caetano só admitia a existência de um único idioma: o guarani - e, a par de alguns termos locais, atribuía as diferenças fonéticas marcantes do tupi antigo quase exclusivamente à deturpação dos portugueses. No nheengatu via, com razão, um dialeto tupi em plena decomposição. Para Barbosa Rodrigues, ao contrário, o nheengatu, a despeito de corrompido, continuava sendo, ainda em fins do século XIX, o dialeto mais próximo da língua-mãe e mais puro do que o tupi de Anchieta e o guarani de Montoya! Uma opinião simplesmente confrangedora.

É esse, em resumo, o caos de concepções com que se defronta Teodoro Sampaio, quando, ao findar do século passado, em meio às suas ocupações profissionais de engenheiro, resolve dedicar as horas de lazer à confecção de um elucidário etimológico da onomástica geográfica brasileira de origem indígena, o qual denominaria O Tupi na Geografia Nacional.

Que motivo levaria Teodoro Sampaio a inclinar-se para o título do seu livro a favor do genérico tupi, quando o exame dos termos geográficos por ele coligidos, lhe mostrara sem dúvida que provinham de três direções distintas: do guarani, ao Sul; do tupi, de São Paulo ao Amazonas, nos primeiros séculos da nossa História, e, mais recentemente, do nheengatu, nas regiões amazônicas?

Teodoro Sampaio, que não era linguista de profissão, achava-se então sob o fascínio dos postulados de Couto de Magalhães, tanto mais quanto este se havia largamente apoiado nas ideias de Martius e Porto Seguro, tidos como as duas maiores autoridades na época.

Além disso, diante da confusão geral, era preciso decidir-se a favor de uma terminologia própria e Teodoro Sampaio adotou, nas duas primeiras edições, a que lhe parecia mais consentânea às convicções.

Reservou o sentido genérico para tupi, expressamente no título e, de forma subentendida, em todos os verbetes onde não faz restrição especial. Aplica-o ao conjunto das tribos tupis e guaranis propriamente ditas e das três línguas gerais por elas faladas.

Ao tupi genuíno, à língua brasílica, chamou de tupi da costa: substituiu nheengatu por tupi amazônico e guarani por tupi-guarani conforme

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