A Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão. Volume I - O comércio monopolista: Portugal-África-Brasil na segunda metade do século XVIII

Aqui, o Novo Mundo distinguir-se-ia como receptáculo da mercadoria mais preciosa da velha África: o negro escravo, cabendo portanto aprofundar o conhecimento sobre a América (especialmente a portuguesa), para melhor relacionar, entre outras coisas, a dependência que esta teve do contingente humano oriundo daquela.

Além do mais, o estudo sobre a colonização de Cabo Verde necessariamente passava pelo conhecimento da produção historiográfica relativa a outras regiões escravocratas, nomeadamente a do Brasil. Por isso, conhecia profundamente autores brasileiros como Arthur Ramos, Antonil, Édison Carneiro, Nina Rodrigues, Gilberto Freire, Nunes Dias, etc.

A leitura destes autores não era uma questão de "mero" enciclopedismo, mas derivada de necessidades da nova etapa da evolução de suas pesquisas. Partindo de uma área restrita (Rios de Guiné e Cabo Verde) começaria a alargar o seu objeto a um espaço cada vez maior em que o Brasil aparecia como parte integrante e fundamental.

O seu primeiro contato sensível com o Brasil deu-se em 1º de abril de 1964. Nesta altura trabalhava como colaborador da Junta de Investigações Científicas do Ultramar(3) Nota do Autor, e na categoria de sua representante foi participar de um congresso sobre Sertanismo, realizado em São Paulo.

Voltaria três anos mais tarde (1967) como bolsista do governo brasileiro, já com um projeto de pesquisa definido. Não foi com certeza por coincidência que Carreira publicara naquele mesmo ano o Alvará secreto da Companhia do Grão-Pará e Maranhão, documento até então desconhecido, e procurado por todos os estudiosos da matéria. Viria a ser longo o percurso nesta área... Dois anos depois, daria à estampa As companhias pombalinas de navegação; Comércio e tráfico de escravos da Costa Africana para o Nordeste brasileiro, trabalho que o autor classificou como "simples subsídio" para o estudo da atividade das referidas companhias. Em 1982, reeditaria o mesmo livro já com o título reduzido de As companhias pombalinas. Este, agora enriquecido com novas informações colhidas no Arquivo Histórico do Ministério das Finanças, em Lisboa. O livro que o leitor tem nas mãos não é senão um terceiro momento, muito mais elaborado, das pesquisas anteriores, resultado de mais de 20 anos de informações coligidas.

Como classificar este último trabalho de António Carreira?

Em primeiro lugar, direi que se trata de uma pesquisa "de fôlego" que só um estudioso paciente e disciplinado lograria concretizar. Por um lado revela, em termos de método, o que o autor adotou em outras obras;

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