A Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão. Volume I - O comércio monopolista: Portugal-África-Brasil na segunda metade do século XVIII

por outro, um tratamento do tema dos melhores conseguidos, não só pela magnífica seleção de textos de apoio, como pelo encadeamento dado aos mesmos.

Comecemos por falar da documentação. Carreira tinha um verdadeiro apreço pelas fontes primárias, e isto por duas razões: a primeira por ter compreendido que sem as mesmas não poderia chegar a uma abordagem superior de qualquer tema histórico (mormente em se tratando de áreas ainda muito pouco estudadas); a segunda, advinda de uma reação a certos "estudos", que não podendo prescindir das mesmas, as negligenciavam em favor de determinadas teorias.

O número e a qualidade dos documentos que compõem o segundo volume desta obra (mais de 70!) é prova suficiente da importância que dava a tais fontes. Eu diria que só o segundo volume por si valeria a pena! Meticulosamente escolhida e organizada, a coletânea possibilita ao leitor, que por um acaso não esteja de posse do primeiro volume, construir uma ideia razoável sobre a formação e evolução de uma das mais importantes empresas do Período Pombalino. A ordenação está feita de um modo, a um só tempo, lógico e histórico. O autor começa pela apresentação dos estatutos da Companhia, prossegue no registro das partes "prejudicadas" com a sua criação, e finaliza com a exposição de cartas referentes ao seu funcionamento e atos ligados à sua extinção e liquidação. Não só nesta obra, como em muitas outras, Carreira iria adotar este procedimento de colocar à disposição do leitor a própria documentação em que se apoiava. Prestava com isso um grande serviço, principalmente, aos jovens investigadores que, na impossibilidade de deslocamento ao local das fontes, ou por ainda não dominarem suficientemente a leitura paleográfica, já teriam em mãos material para exercitar as suas pesquisas.

A sua preocupação com este setor de leitores (e não só) iria mais além como se vê na nota introdutória ao primeiro volume. Era costume do autor fazer um depoimento sobre as circunstâncias em que cada obra fora concebida, assim como o período de gestação por que passava. Nisto relatava todas as dificuldades e etapas sucessivamente vencidas. Através da sua experiência, ensinava a investigar e, através do seu desabafo, justificava de antemão as falhas ou lacunas do trabalho.

Mas voltemos a falar do livro em questão...

A nível do tratamento dado ao tema neste primeiro volume, a proeza do autor não é menor do que a conseguida no apenso documental. Se no segundo livro Carreira se cinge a apresentar textos exclusivamente referentes à Companhia, já neste em que a analisa, alastra o período e a área de abordagem de modo a contextuar o seu surgimento e o seu desaparecimento.

Remontando ao recuado século XV, o autor detecta as primeiras iniciativas de tipo associativo para explorações mercantis, mostra a evolução para o sistema de arrendamentos e deste para o das companhias de comércio;

A Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão. Volume I - O comércio monopolista: Portugal-África-Brasil na segunda metade do século XVIII - Página 21 - Thumb Visualização
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