A Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão. Volume I - O comércio monopolista: Portugal-África-Brasil na segunda metade do século XVIII

no sentido oposto, persegue a atuação das comissões liquidatárias no seu longo período de existência. Completa ainda o panorama explorando aspectos que indiretamente contribuem para a compreensão do complexo criado em 1755, o caso, por exemplo, do histórico que faz sobre a presença e decadência da posição portuguesa no ocidente africano.

Sobre a Companhia, propriamente dita, a explanação é realizada de modo a abranger os seus mais variados aspectos organizacionais e empresariais. Cremos, inclusive, alguns nunca estudados tão minuciosamente. Veja-se, por exemplo, a atenção dispensada aos produtos cambiados pela Grão-Pará e Maranhão, a descrição das frotas utilizadas ou a forma de obtenção e acondicionamento dos escravos.

Intercalando a narrativa com excertos de documentos, listas nominais, ou quadros estatísticos, o autor obsessivamente lança mão da transcrição daqueles para comprovar a consistência de suas hipóteses ou argumentos. Em alguns momentos, porém, a busca dessa exatidão chega a ser excessiva, pela repetição de longos trechos do apenso documental, ou, em se tratando das listas, quando as mesmas não permitem inferir qualquer aspecto conclusivo. Já no que concerne aos dados estatísticos, a utilização é mais eficaz. Multiformemente analisados e até mesmo desdobrados de forma a particularizar certos quantitativos, induz o leitor, passo a passo, a avaliar, alternadamente, o movimento global e parcial das transações.

É ainda de destacar que o grau de entendimento a que o autor chegou sobre a contabilidade da Companhia possibilitou-lhe uma visão bastante crítica sobre os dados reunidos. Pode, assim, pelo confronto de fontes, ou duvidar da veracidade de certos documentos, ou, entre dois contrários, optar com certa segurança pelo mais coerente. Ora, uma ousadia destas só poderia partir de um estudioso com profundo domínio no assunto.

Não obstante esta constatação, não escapará certamente ao leitor o diferente senso com que Carreira trata as questões relativas à costa africana e ao Brasil. O conhecimento empírico aliado aos estudos realizados por mais de 40 anos sobre aquela área, o coloca totalmente à vontade na abordagem daquele setor, o que já não se passa com o Brasil. A sua experiência com a história deste último país foi outra, em outra medida e em outro grau. Nesta medida, quando na conclusão aventura-se desnecessariamente a fazer a síntese de toda a história brasileira até o século XVIII, peca por não ir além do senso comum, ou por utilizar posições, ao menos, discutíveis.

Contudo, e sobre a Companhia do Grão-Pará e Maranhão, dá a conhecer o autor nova documentação e novos aspectos de sua organização e funcionamento.

Carreira concluiu este último livro quando já contava com 83 anos de idade. Mal o terminou, já preparava o material para os próximos

A Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão. Volume I - O comércio monopolista: Portugal-África-Brasil na segunda metade do século XVIII - Página 22 - Thumb Visualização
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