Brasil: a terra e o homem. A vida humana

a luta do homem contra a natureza vem sendo desenrolada desde os primórdios da colonização e oferece, por certo, nos dias atuais, num balanço geral, um expressivo saldo a seu favor.

Sendo o Brasil em sua maior parte um país tropical, no qual pela extensão de suas terras é possível distinguir vários conjuntos regionais, muito bem caracterizados pelos elementos clima, vegetação, relevo, estrutura geológica, solo e hidrografia, as reações do homem perante ambientes tão diversos e, por vezes mesmo, antagônicos, têm sido as mais díspares possíveis.

Assim, os tipos humanos regionais que encontramos pelo Brasil diferem tanto entre si, não somente pela constituição física, mas também pela maneira de vestir, de falar, de pensar e de agir, que chegam a contrastar, substancialmente, uns brasileiros de outros.

Nada mais interessante do que folhear e admirar os excelentes desenhos que constam da publicação Tipos e aspectos do Brasil;(4) Nota do Autor nela, os personagens-tipos encontram-se grupados pelas regiões e o leitor poderá assim mais facilmente correlacionar o homem e o meio.

Todavia, nisso não está implícito que estejamos a reconhecer estes tipos humanos como uma manifestação pura e simples das condições físicas regionais. Muito pelo contrário, eles correspondem exatamente às reações do homem frente ao meio, ou seja, as maneiras e as atitudes que assumem, para, valendo-se dos elementos oferecidos pelo quadro natural, dele tirar o maior proveito possível, de acordo com seu grau de cultura e consequente capacidade de saber utilizar-se do ambiente que o rodeia.

Foi dessa ação recíproca entre o homem e o meio natural que resultou uma série muito grande de características da tomada de posse do nosso território; estas feições seriam todavia incompletas se continuássemos a esquecer que, além do meio natural, o homem encontra também pela frente um outro ambiente, o meio cultural.

As reações que este último ambiente provoca no homem brasileiro são de tamanha importância que podemos escrever serem elas tão dignas de estudo quanto as que derivam de meras condições físicas, pois, sendo estas por vezes definidas e estáticas, não apresentam os imprevistos e os problemas daquelas, que exatamente por sua dinâmica constante estão a oferecer, diariamente, outras condições de utilização da terra e, consequentemente, introduzindo alterações na paisagem humanizada do Brasil.

O que se aplica a uma determinada parcela do Brasil, muitas vezes não é válido para outra; assim, Gustavo Barroso, em seu magnífico ensaio sobre o nordeste sertanejo, quando escreveu que "a luta pela água é uma coisa horrorosa",(5) Nota do Autor definiu com esta frase dura, mas ao mesmo tempo objetiva e crua, o que realmente se passa naqueles rincões de nossa terra. Mas o homem subsiste nestas paragens, porque "o sertanejo é, antes de tudo, um forte", no dizer tão a modo de Euclides da Cunha.(6) Nota do Autor

Já para o norte do Brasil, o problema da água é outro, pois, como escreveu Raimundo Moraes, "é na corrente dos rios e na superfície dos lagos que se decidem nossos problemas",(7) Nota do Autor apesar dos sacrifícios e das medidas a serem tomadas por ocasião das enchentes e das inundações, das quais "os brasileiros do Sul ignoram completamente as cenas terríveis e emocionantes do vasto palco amazônico",(8) Nota do Autor para os amazônidas traduzidas, depois de superada

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