História da alimentação no Brasil – 2º volume: sociologia da alimentação

Folclore da alimentação

O folclore na alimentação deve ser tão variado e complexo como sua própria História.

Um tanto aflorada nas superstições alimentares, a vastidão temática compreende toda a etiqueta tradicional da mesa, o respeito, que é um vestígio religioso inapagável.

Os alimentos no túmulo resistiram até fins do século XVIII apesar das proibições eclesiásticas. Ainda guardam comida na véspera de São João, noite de 23 para 24 de julho, para o espírito do futuro noivo vir servir-se, visível em sonho. O "presente" de Iemanjá, atirado às águas do mar onde ela mora(*) Nota do Autor, evoca a comida privativa de cada orixá no culto jejê-nagô, do Rio Grande do Sul ao Recife. O cuidado nos candomblés, macumbas, xangôs, catimbós, no resguardo aos restos de alimentos, armas terríveis no poder dos inimigos, baseados na lei da participação, o totum ex parte indivisível, é ainda vivo nas crendices populares brasileiras. Pedaço de pão mastigado é o melhor material no preparo do feitiço amoroso.

Sentar-se à mesa sem armas é uma herança imemorial. Quando o rei D. João I de Portugal encontrou-se em Ponte da Barca com o duque de Lancastre, João de Gand, seu futuro sogro, cumpriu o preceito. E "ally sedesarmarão e asemtaramse a comer ambos", informa Fernão Lopes (Crônica de D. João I, XCI). Fins do século XIV. "O sertanejo nortista não se senta armado à mesa de refeição", registra o Sr. Francisco de Assis Iglésias(228) Nota do Autor,

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