quem dele participasse ativamente, em vez de tomar a postura de quem o contempla numa distante condescendência. Diante de matéria tratada com zelo tão prolixo, como devia parecer uma obscura colônia portuguesa dissecada ao longo de três compactos volumes, a novidade de semelhante concepção não tinha voz ou falava tão em surdina que mal se fez sentir no momento em que lhe seria possível, em outras condições, oferecer estímulo fecundo aos historiadores. Não admira se numa resenha de 1824, no Blackwood's Edinburgh Magazine, houve quem apresentasse a História do Brasil como a "produção mais ilegível dos nossos dias". Ficara pasmo o resenhador só à vista de "dois ou três fólios gigantescos (elephant folios) acerca de uma só colônia portuguesa. Os coronéis, capitães, bispos, frades mais ínfimos aparecem ali como se tivessem sido outros tantos Cromwells ou Loyolas". Alguns autores, porém, e dos mais ilustres de seu tempo, não se mostraram tão insensíveis aos recursos que permitiram a Southey sobressair da atmosfera mental dos historiadores da Ilustração. Em estudo que a autora deste livro publicou anteriormente sobre "O Brasil na Historiografia romântica inglesa" salienta-se devidamente a grata surpresa com que Walter Scott acompanhou, através da obra do amigo, as antigas proezas dos aventureiros lusitanos e luso-brasileiros numa obscura colônia da América do Sul: "Vinte vezes vinte vezes obrigado", escrevia-lhe o criador de Ivanhoé, "pela História do Brasil, que foi, neste mês passado, minha distração, meu conforto e uma fonte de saber ...", "...minha leitura obrigatória de cada dia, depois do almoço até a hora do chá...", "...acordou um tipo de sensação que em mim eu já imaginava coisa morta...".
Nesses arrepios de entusiasmo, sua comentadora brasileira vislumbra muito da sedução do exótico, do primitivo, do rude, que fazem parte do universo de Walter Scott, mas ainda sublinha, creio que com razão, a presença de uma afinidade essencial dos dois autores no que respeita à imaginação histórica. Mas nem por isso julgou que a fantasia poética prejudicasse em Southey a sobriedade e o gosto da exatidão, que naturalmente pertencem ao mister do historiador. Alguns o criticaram, como o resenhador de Edimburgo, sem lhe pôr esse defeito, mas tão-somente porque publicou enormes cartapácios sobre coisa tão mofina como parecia uma simples colônia portuguesa. Outros, pelo mesmo motivo, deixariam de lê-lo, sem no entanto precisar admitir que desmerecessem a glória de um poeta laureado. Não se resume a esse valor fiduciário, por assim dizer, a dívida de Southey historiador ao poeta Southey. Registrando o que ouviu da garrulice não raro maledicente