A ideia de escrever este livro, ela a teve quando estudante ainda e ainda teenager, e desde então, a meditação e o estudo sobre a obra e a época de Southey parece ter sido um dos pontos de partida de toda uma constelação de estudos, e só me refiro aqui aos publicados, como o trabalho já mencionado sobre O Brasil na Historiogrefia Romântica Inglesa, um estudo de afinidades de visão histórica: Southey e Walter Scott, ou ainda Aspectos da Ilustração no Brasil, e também A interiorização da Metrópole (1808-1853). Mas frisar principalmente a atenção que dedicou aos problemas dos fins do século XVIII e da primeira metade do XIX, parece uma limitação forçada de um amplo círculo de interesses, que pode abranger desde sua tentativa de retroversão para o português de um texto do padre Fernão Cardim perdido no original e que existe só em inglês na compilação seiscentista de Samuel Purchas, até a publicação das partes ainda inéditas, inéditas até essa publicação do diário de André Rebouças, relativas à guerra do Paraguai, que anotou minuciosamente. No livro que agora se publica o que sobretudo se teve em vista, e está dito em suas páginas, é fixar um tipo de mentalidade caracterizado pela expressão "o fardo do homem branco" que Kipling celebrizou, e que, marcando o Império Britânico do comércio livre, continuaria presente na fase de formação e consolidação do Estado brasileiro. Ele agiria sobre estadistas empenhados na construção da nacionalidade e até sobre nossos pensadores e historiadores de fins do século passado e inícios do atual. Relendo-o agora, depois de o conhecer ainda em fase de elaboração, e ainda sob a forma de tese de concurso, vem-me à lembrança a constante aversão a reformas mais substanciais que marca singularmente a história do Império brasileiro, e parece estar à base do festina lente do Segundo Reinado. Herança, talvez, do espírito da Inglaterra pré-vitoriana, diretamente recebida ou por intermédio da monarquia burguesa de Luís Filipe. Recebida, é verdade e mal ou bem absorvida, num país que ainda não tinha nascido para a Revolução Industrial e que não tinha propriamente uma burguesia.