O fardo do homem branco. Southey, historiador do Brasil. Com um estudo dos valores ideológicos do império do comércio livre

O fato é que a visão implícita na História do Brasil de Southey não seria mais europeia ou europeizante do que a própria visão dos estadistas fundadores do império. Elaborada na Inglaterra, por um poeta romântico marginalizado e profundamente imbuído dos valores da ideologia conservadora da contrarrevolução, sua obra faria com que a história colonial brasileira fosse pela primeira vez integrada no contexto da moderna civilização europeia, de um prisma ambíguo de crítica ao capitalismo industrial, a partir de uma perspectiva tradicionalista e agrária e ao mesmo tempo afirmativa, através de uma conceituação evolutiva e organicista da história, da superioridade das tradições e instituições europeias a serem implantadas nos trópicos.

Como conservador militante, através de um nacionalismo atuante e integrador de conflitos sociais, Southey estava empenhado no fortalecimento do Estado e na institucionalização de laços sociais paternalistas, que absorvessem no todo da sociedade as novas classes trabalhadoras e as populações nativas das dependências coloniais. Seria precisamente em função de seu prisma anglo-saxônico, preocupado com a regeneração da sociedade inglesa, que via ameaçada pela Revolução industrial, que Southey se voltaria para a história das colônias portuguesas. Foi o que lhe permitiu vislumbrar, nas primeiras décadas do século passado, certas peculiaridades da formação mestiça da sociedade brasileira, oriundas da colonização comercial, e apontar, com raro escrutínio, vícios atávicos nas relações entre a sociedade civil e o Estado nas colônias do Brasil.

A sua obra é ao mesmo tempo uma crítica à colonização de exploração comercial e uma análise do processo de formação do Estado no interior de uma sociedade colonial. Imbuído do ideal agrário dos artesãos de sua terra, como programa de coesão e, harmonia social, o historiador é eminentemente crítico do sistema de exploração de metais preciosos e do despotismo fiscal da coroa portuguesa:

O fardo do homem branco. Southey, historiador do Brasil. Com um estudo dos valores ideológicos do império do comércio livre - Página 28 - Thumb Visualização
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