"...Antes tivessem os diamantes permanecido no leito dos riachos das montanhas e pisados pela gente selvagem; antes tivesse o governo português arrecadado aquela receita de outro modo ou prescindido dela, do que ter forjado um sistema que principia e termina no mal... gerando a iniquidade e a injustiça no seio do governo; a fraude, a calúnia e a prevaricação no povo; a traição, a suspeita, culpa, desgraça e ruína. De nenhum outro rio do mundo se extraiu riqueza maior do que do leito do Jequitinhonha; entretanto, o menor riacho de irrigação dos prados da Savóia e do Piemonte trouxe um bem maior..."(7) Nota do Autor
Aparentemente seduzido por tendências fisiocratas, favorece o fortalecimento do poder estatal em função da política de reformismo ilustrado, fomentadora de atividades agrícolas. Sua obra veicula os valores da filosofia política de Burke e de Coleridge. A fim de suprir as falhas de nexo moral da sociedade colonial, prevê a necessidade de reformas, capazes de transformar a colônia num futuro Estado centralizado, de poder executivo forte. Como precursor de uma espécie de socialismo cristão e, sobretudo, como historiador de orientação essencialmente intelectualista, Southey deposita grande fé na possibilidade de uma educação estatal:
"...O governo pode tentar outros meios que não a imposição das leis pela força; pode alcançar muito mais através do recurso todo-poderoso da educação..."(8) Nota do Autor
Foi, com isso, levado a realçar a obra missionária dos jesuítas e a exaltar o cooperativismo teocrático das reduções guaranis.
Interessado na transformação da sociedade colonial em futuro Estado-Nação, Southey é crítico do atraso e das superstições católicas dos portugueses. Apesar da mestiçagem e da política de integração étnica que admira nos portugueses, vê na sociedade colonial mil focos de dispersão e de anarquia; os vícios da sociedade escravocrata e do localismo exaltado de potentados rurais; a ausência de laços comunitários que favorecessem a implantação das virtudes da civilização em meio à selvageria da colônia. Contra o isolamento no meio inóspito dos trópicos e o retrocesso a uma selvageria pior que a dos índios, o historiador propõe as vantagens civilizadoras do comércio, diversificando as necessidades,