Estudos Históricos e Políticos

uma nota que destoasse dessa orientação perpétua do seu espírito. É o último representante da estirpe que deu às nossas letras Varnhagen, Rio-Branco, Eduardo Prado e Capistrano. Poderia reivindicar para o seu roteiro intelectual a mesma divisa que o segundo: Ubique patriæ memor.

Não falaria aqui do seu dinamismo construtor, atividade infatigável com que exerceu quase todas as pastas ministeriais da república — a Agricultura, a Fazenda, a Guerra — se não me fosse mister acentuar um dos aspectos da sua formidável personalidade: a neurose do trabalho. Cada uma dessas pastas foi para ele um posto de sacrifício e de labor e não de vaidade ou politicagem. A sua tradição ainda está viva no pessoal das repartições que superintendeu. Levantava-se de madrugada, inspecionava pessoalmente os trabalhos, multiplicava-se, parecia ter o dom da ubiquidade. Muitas vezes, nos arsenais ou oficinas, os operários que consertavam ou instalavam máquinas, eram surpreendidos por um contramestre desconhecido, que lhes apressava, ensinava e partilhava os trabalhos. A blusa ocasional não conseguia dissimular aquele estranho operário, cujo ascendente imediato feito de saber e experiência todos sentiam.

"É o ministro!" — corria de boca em boca. E era realmente. O próprio ministro, não se contentando em mandar, viera ver, ensinar, executar, concluir.

Esses episódios do Calogeras político penso que ilustram e definem, mais que longas dissertações, o Calogeras escritor. Uma infatigável atividade, uma incessante febre de realização levam-na a escoldrinhar todos os pontos da nossa história, e verificar todos os motores da nossa vida política.

A Política exterior do Império é um livro fundamental da nossa história. Na sua concisão quase algébrica,

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