RIO BRANCO E A POLÍTICA EXTERIOR
Nenhum dos homens de Estado brasileiros possuiu no ambiente nacional, por prazo tão largo, influxo dominador, sereno e indiscutido que se houvesse aproximado do que exerceu o segundo Rio Branco.
Certo, antes dele, haviam culminado no conceito público numerosos patrícios nossos, alguns dos quais dignos do mais alto destaque no cenário das mais cultas e exigentes nações.
Os homens da Independência, os da Regência, Honorio Hermeto, Eusebio, Uruguai, o visconde do Rio Branco, Caxias, Cotegipe, Saraiva, Affonso Celso — para só falar nos que se foram — haviam experimentado a sorte vária da fortuna política, e, por longos serviços prestados, merecido a estima, a veneração, o reconhecimento da pátria.
Era, entretanto, um sentimento menos íntimo; uma gratidão menos espontânea e mais meditada; fenômeno psíquico mais cerebral do que profundamente afetivo. E de duração menos prolongada, apesar da permanência das altas situações oficiais a que tinham chegado esses brasileiros ilustres.
Eram vultos que se tinham formado e distinguido em porfiadas lutas. Em torno delas, nas batalhas parlamentares, nas refregas eleitorais, nas consultas à vontade do país, um estado-maior se havia congregado, uma familia partidária, no sentido latino da velha palavra, uma clientela que exalçava seu chefe. Constituíam a "gente" desse ou daquele prócer, relembrando a gens romana.