Vocabulário Nheengatu

do moquém e com olhares e esgares ferocíssimos contemplam a vianda. E por maior que seja a assistência ninguém sai sem o seu pedaço.

Isso não o fazem por gula, embora confessem que a carne humana é maravilhosamente fina, mas para que o roer o inimigo morto até ao osso infunda espanto aos inimigos vivos. Move-os a vingança, salvo nas velhas, cuja gulodice é extrema, e, assim, para satisfazer o sentimento de ódio, devoram as vítimas da ponta dos dedos dos pés ao alto da cabeça..."

Decididamente os nossos aborígenes não eram antropófagos porque não tinham o hábito, o costume de se alimentarem da carne humana.

É inegável que comiam os seus prisioneiros de guerra, por vingança: mas, haverá algum povo no mundo que, ao atravessar o baixo grau de civilização em que jaziam os povos primitivos do Brasil ao serem encontrados pelos europeus, se houvesse eximido do instinto bestial de se vingar de seus inimigos devorando-os?

Se a civilização atual em cujo ambiente o respeito pela vida humana já não vale o refreamento de uma volada a 80 quilômetros horários; em cujo seio o indivíduo mata seu semelhante por qualquer motivo, e mesmo sem motivo algum, mata por matar, sem que, só por isso, lhe aconteça

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