Os organizadores de entradas no sertão para as chamadas descidas, exploraram em proveito próprio a balela da antropofagia divulgada pela crônica, obtendo o direito de posse sobre os silvícolas por eles encontrados prestes a serem devorados pelas hordas canibalescas: claro está que, armados dessa faculdade, para os descedores todo o aborígene apanhado no sertão estaria ameaçado pelos antropófagos e logo a interesseira proteção do sertanista fazia-se sentir, e as descidas realizavam-se avolumadas em centenas e milhares de indivíduos, obrigados a permutarem o imaginário perigo do canibalismo pela certeza da escravidão ilusoriamente rotulada de administração: a condição destes protegidos era em tudo igual à dos silvícolas apanhados em guerra contra os brancos, outro pretexto para as ameudadas e volumosas descidas de administrandos.

Relativamente à escravização dos aborígenes, não é fora de propósito lembrar que os paulistas, assim procedendo, não decaíam da civilização do tempo, nem se mostravam mais desumanos que os demais povos contemporâneos civilizados, devendo-se considerar ainda a carência de braços para a sua lavoura (que o colono europeu só mandava e dirigia) de unidades para a formação dos seus exércitos aos quais devemos, sem contestação, a grandeza territorial do Brasil, e, sobretudo, a necessidade