Amazônia - a terra e o homem

da mulher, aceita-a como objeto de transação comercial, concorrendo para a implantação desse tráfico, senão generalizado ao menos adotado naqueles tempos remotos, cuja memória se vai já apagando sem que ao menos registrada fique a sua história.

A carência da mulher, dentro do seio de um organismo social que teve por gênese uma calamidade, ainda sem a prostituição a ulcerar-lhe a intimidade dos tecidos, criou, — na época de ebulição da vida acreana, na idade trepidante do contagioso delírio de grandezas no far-west amazônico, — um novo gênero de comércio, de "camelotage", de "ciganagem" (esta a expressão perfeitamente ajustada à gíria local), que consistia no tráfico de mulheres decaídas, transformadas em objeto de negócio de certos agenciadores ou regatões. Praticavam tal comércio menos por falta de escrúpulo do que pelo desejo de bem servir a freguesia do alto; consignavam as "vênus" mercenárias, mediante fatura especificada em gastos e comissões, ao pessoal mais abonado dos seringais, contra resgate em borracha ou carta de ordem.

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