Viagem pelas províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais t. 1

de espaço a espaço, o abraçam como juncos flexíveis; mantém-se assim e pode suportar os furacões mais terríveis. Alguns cipós se assemelham a fitas onduladas; outros se torcem ou descrevem largas espirais; caem em festões, serpenteiam entre as árvores, entrelaçam-se uns aos outros e formam massas de ramificações, de folhas e de flores, onde o observador tem dificuldade em atribuir a cada vegetal o que lhe pertence.

Mil arbustos diversos, melastomáceas, borragináceas, piperáceas, acantáceas, etc., nascem ao lado de grandes árvores gigantescas que erguem sobre sua copa os tufos impenetráveis à luz solar. Os troncos derrubados não se cobrem somente de obscuras criptógamas; tilandsias, orquídeas de flores bizarras, etc., fornecem-lhes galas estranhas, e, por sua vez, estas plantas não raro servem de suporte a outras parasitas. Numerosos córregos serpenteiam geralmente pelas matas virgens; entretêm uma temperatura agradável; oferecem ao viajante sedento uma água deliciosa e límpida, e são bordados de tapetes de musgos, licopodinas e filicíneas, por entre os quais brotam begônias de hastes delicadas e suculentas, de folhas desiguais e flores cor de carne.

Estimulada sem cessar pelos dois principais agentes, a umidade e o calor, a vegetação das matas virgens está em perpétua atividade; o inverno não se distingue do verão senão por uma delicada diferença de matiz no verdor da folhagem, e, se algumas árvores perdem as folhas, é para retomar dentro de pouco tempo novas vestes. Mas, é necessário convir, essa vegetação que jamais repousa, não permite encontrar nas matas tantas flores como nas regiões descobertas. A floração põe, como se sabe, fim à vegetação; árvores que sem descanso produzem galhos e folhas não podem dar flores continuamente; e, por exemplo, uma Qualea gestasiana, que se ornara de flores elegantes,

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