é a expressão da guerra e da fome, da tirania e do fanatismo, da tortura e da fogueira, símbolos da maior miséria social.
O absolutismo, crescendo por toda a parte, encontrava Portugal, naquele século, em as melhores condições para o seu reinado.
Decadência moral; absorção pelo poder das forças vivas da sociedade; definhamento das municipalidades e das cortes; anulação da nobreza cavalheirosa, substituída pela nobreza rapace e indolente; simonia, ignorância e brutalidade do clero; rei beato e corrupto; a classe industriosa, ou a raça hebraica, perseguida em vez de protegida; a inquisição firmada; tudo, até a dependência, em que estava, do maior foco da peste moral nesse tempo, a corte de Roma, tudo, enfim, conspirava para a ruína desse desgraçado país. Um historiador consciencioso, Alexandre Herculano, no livro do estabelecimento da inquisição, resume assim a fisionomia da época referida: "...Século corrupto e feroz, de que ainda hoje o absolutismo, ignorante do seu próprio passado, ousa gloriar-se, e que tendo por inscrição no seu ádito o nome obsceno de Alexandre VI, e por epitáfio em seu tronco o nome horrível do castelhano Philippe II, o rei filicida, pode, em Portugal, tomar também para padrão, que lhe assinale metade do curso, o nome de um fanático, ruim de condição e inepto, chamado D. João III."(1) Nota do Autor
Já não existia então o vigor da sociedade nascente, dos séculos XII e XIII. Sem o espírito forte e a vontade indomável dos povos de raça germânica, Portugal brilhou um dia, no século XV, e morreu para sempre. Traçando seus versos imortais, cujas harmonias inspirava mais o patriótico louvor dos feitos dos maiores, a musa do passado, temporis acti, do que a esperança do futuro, Camões, o agoureiro Camões, dizia: