Memórias de um Cavalcanti: 1821 - 1901

na rua Imperial, na rua Augusta, na rua da Praia, na praça Conde d\'Eu, que foram talvez os quatro cantos do Recife onde Felix Cavalcanti mais morou. Na praça do Conde d\'Eu morreu sua mulher. Na rua da Praia, aos quatorze anos, o seu adorado Ioiozinho que era então pela inteligência quase de homem e pela beleza ainda de menino, a flor da família. Na rua da Praia: num daqueles sobrados velhos e talvez mal-assombrados, com misteriosos \"barulhos na escada\", que ainda hoje estão de pé; com fantasmas de padres magros aparecendo de noite às pessoas para dizer que na sala de visita havia dinheiro escondido; com vozes de almas penadas pedindo missa.

Era morrer ou adoecer uma pessoa da família e Papai-outro mudava de casa. Estava sempre morrendo alguém na família ou entre os escravos; ou havia sempre alguém doente e precisando de \"mudar de ares\" — o que os médicos da época tanto aconselhavam — e, por conseguinte, de casa.

A bexiga era um pavor para as famílias no Recife do tempo de Papai-outro. No seu álbum — ou antes no que resta do seu álbum — está um soneto, \"O Recife\", que diz:

\"Enfim, pátria da morte e do extermínio
Firmaram no teu solo seu domínio
As febres, a varíola e a colerina\".

A casa onde morria bexiguento, sem sofrer desinfecção séria depois de desocupada, ia passando a terrível doença aos novos moradores. A bexiga, a tuberculose,

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