Memórias de um Cavalcanti: 1821 - 1901

casas das 8.875. Morou antes em Jundiá, Jussarazinho, Quitinduba — casas-grandes de engenho; morou em Beberibe, Apipucos, Afogados, Várzea, na Vitória, Escada, Olinda, Chã de Carpina ; e no Recife nas ruas da Praia, Imperial, Glória, Augusta, Praça Conde d'Eu, Camboa do Carmo, ruas Princesa Isabel, Aurora, Vidal de Negreiros.

Mudanças de casa. Foi quase somente de casa que Papai-outro mudou durante a vida. De casa, de rua, de bairro e um pouco de cidade. De ideias, muito pouco. De profissão, também pouco. E muito pouco de hábitos, de sentimentos, de preconceitos. Em muita coisa conservou-se no Recife do século XIX o aristocrata de engenho do Sul de Pernambuco; o Cavalcanti de Albuquerque Mello de outros tempos; o matuto fidalgo desconfiado do Povo, da Cidade, da Democracia, da Abolição, da República. A pobreza, o ofício de regente dos educandos do Arsenal de Guerra, o de escrivão, o de amanuense da Santa Casa, o cenário burguês da vida de burocrata, nada disso alterou profundamente nele o feitio aristocrático que lhe deram sua herança moral e de sangue.

Não que faça gala, em parte nenhuma do livro, da origem boa ou dos parentescos ilustres; são suas atitudes, seus modos de ver os acontecimentos e os homens, seus preconceitos que revelam nele o aristocrata imperecível. Principalmente os preconceitos. Preconceitos de caturra colonial, de parente pobre orgulhoso, de Cavalcanti matuto, incapaz de acompanhar Joaquim Nabuco na adaptação magnífica do descendente dos

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