A capoeiragem era então uma força a serviço da política partidária, tão intensa no Recife do século XIX. O burgo liricamente comparado pelo poeta a Veneza:
"Veneza americana boiando sobre as águas"
era naqueles dias e tem sido quase sempre antes uma Florença que uma Veneza. Florença americana ardendo no fogo das revoluções, das lutas entre partidos, das revoltas de cavalgados contra Cavalcantis, dos combates entre bianchi e neri.
Se a capoeiragem é, como pretende Adolfo Morales de Los Rios Filho, "uma criação dos fracos — o negro e o mestiço — contra o forte: o branco", onde ela se apurou melhor que no Recife de cavalgados contra Cavalcantis: que nesta nossa Florença americana de cabras afoitos e de negros arreliados, ao serviço de vagas reivindicações políticas, encarnadas ora por um Pedroso, ora por um Nunes Machado ou por um José Mariano e a encobrirem aspirações sociais também um tanto imprecisas, turvadas por muito ressentimento de natureza pessoal, mas no fundo sociais?
Capoeiras negros e mulatos, cabras ligeiros na arte da rasteira, do rabo-de-arraia, do arrastão, no manejo do cacete, da navalha, da faca de ponta, tornaram-se guarda-costas não só de homens do governo mais violentos como de políticos oposicionistas mais irrequietos. Os capoeiras do Recife, como os do Rio, eram quase sempre mulatos de gaforinha, andar gingado, lenço encarnado no pescoço. Por debaixo da camisa, raro