uma vez certo ironista melancólico. Teve quem a chorasse; senão alto e pelos diários públicos, baixo e em páginas recatadas de diários — ou quase diários — de família, como o que se vai ler. Choro aliás desinteressado, que é o melhor.
Destruída a Monarquia, Felix Cavalcanti, seu entusiasta talvez um tanto ingênuo, ficou chorando por mais de dez anos, com o desconsolo de um órfão político, a morte do sistema não simplesmente político mas social a que desde pequeno se afeiçoara e que lhe parecia ligado intimamente à estabilidade, à ordem, ao bem-estar do Brasil. Posso, aliás, adiantar, nesta introdução às memórias de Felix Cavalcanti, que das 65 autobiografias que já recolhi de brasileiros de várias profissões e de diversas regiões, homens e senhoras maiores de cinquenta anos, como respostas a um inquérito organizado para servir de lastro a trabalho próximo — Ordem e Progresso — sobre a paisagem social dos últimos anos da Monarquia e do começo da República no Brasil, grande número das pessoas, não revelando sebastianismo nenhum, nem desejo, mesmo vago, de restauração do Império, lamentam tanto quanto o velho Felix Cavalcanti a substituição da Monarquia pela República em 1889. Donde se conclui que a Monarquia ou o Rei, ou melhor, o Imperador ou, melhor ainda, Dom Pedro II, tem sido e é ainda um defunto chorado no Brasil. Chorado por juízes, desembargadores, professores, homens do povo, advogados, padres, funcionários públicos, médicos, senhoras ilustres. Choradíssimo por Felix Cavalcanti de Albuquerque Mello,